É difícil alguém falar que nunca ouviu a voz de Lourena. É mais difícil ainda, quem já ouviu, confundir os vocais marcantes da artista que colocou sua assinatura em diversas edições do ‘Poesia Acústica’. Lorena Almeida, de 24 anos, é cria de Madureira, Zona Norte do Rio de Janeiro, e acredita que o lugar de onde vem formou parte do que é como artista. Eclética, na música encontra várias formas de ser ela mesma. Mas uma coisa é certa: as emoções dos ouvintes sempre vão se encontrar com as letras de Lourena, em algum momento. Um desses momentos será no dia 14 de setembro, no Rock in Rio, onde o público vai poder ser abraçado pelo show da cantora.
A história da Lou com a música começou bem cedo, quase que por acaso; pediu a sua avó um skate de presente, mas recebeu um violão. “Eles [sua família] tinham medo de eu me machucar, porque eu sou muito espiruleta, né? Falaram ‘dá um violão para ela que tá bom!’ E aí eu estranhei, tanto que ele ficou uns anos parado, dos meus 8 aos 11. Mas pensei: por que não aprender? Eu gostava muito de fazer poesia e o violão me deu essa direção musical. Então eu consegui transformar minhas poesias em música”, relembra a artista.
Ela conta que foi só em 2018 que se tornou uma artista profissional, quando fechou com a Rap Box. Foi em 2018 também que entrou para a graduação de Produção Cultural no IFRJ. “Foi quando eu lancei meu primeiro clipe, durante a faculdade. Minha mãe já não podia me restringir tanto. Porque ela sempre foi evangélica nata, né? Sempre teve medo das coisas do mundo, então eu era muito de ficar em casa. Quando passei para a faculdade, ela ficou mais tranquila.” Com a agenda cheia de viagens por conta da carreira, Lourena não conseguiu concluir o curso, mas conta que não é um sonho enterrado.
O amor pela produção cultural, no entanto, se conecta com sua própria carreira. Lourena é uma artista que gosta muito de estar em movimento – fazendo e sendo. “O movimento é o que mexe comigo, as pautas, se jogar, conhecer”, ressalta. Para ela, ser de Madureira é ter o movimento cultural intrinsecamente ligado a sua existência. “Madureira é um nicho não só musical, mas para a arte como um todo. Então, querendo ou não, mesmo restrita de sair quando mais nova, eu vivia as coisas. Meus pais também sempre gostaram muito de música e dança, e eu fui me inspirando. Deles, veio o gospel. Então acho que esse meu lado sentimental desse movimento é uma junção do gospel da minha família e do lugar onde nasci, Madureira.”
Lou chegou a ser parte do grupo de louvor jovem, e também tinha uma banda de reggae rock chamada Blumaré, que conta com quatro faixas lançadas no SoundCloud. Na descrição, tem a frase: “Fazendo música boa vamos conquistar o mundo!” Parece que a artista não esqueceu disso e segue em busca de, através de sua arte, atingir as pessoas, acessá-las e se conectar com elas. Parecem três coisas distintas, mas se você ama arte sabe que não.
Além do convite para o Rock in Rio, foi neste ano que Lourena lançou o primeiro seu primeiro álbum, “Um Pouco de Mim”, com sete faixas. Para ela, unir o lançamento do álbum com sua estreia o Rock in Rio tem muitos significados. “Realizada não é minha totalidade porque eu sei que tem muita coisa a se realizar, mas com certeza o Rock in Rio é uma realização. Porque eu via com os meus pais o Rock in Rio na TV. A nossa condição não era de comprar um ingresso e ir. Ter convidado eles para assistir a um show meu lá foi surreal, cara! Tá tudo sendo um grande sonho; de poder dividir o palco com pessoas que são tão grandiosas na arte, em experiências, vivências… eu fico sem palavras. Espero muito representar as mulheres pretas, a favela, o subúrbio, as pessoas que lutam todos os dias por um sonho e ainda são limitadas por conta do sistema e coisas que temos que ultrapassar”, confessa.
“Lancei o meu primeiro álbum agora, com mais maturidade, mas não chega nem perto do que eu quero fazer, que é o acústicozão. Acho que vou ser reconhecida por isso”, e quem ainda não a reconhece por isso tá vivendo errado. Mesmo com suas letras na boca do povo, ela é humilde: “É uma construção. Acho que eu quis mostrar, como diz o álbum, um pouco de mim, o que eu sei fazer também, o que eu gosto, que é o charme, o black, anos 2000, que eu amo muito. Para as pessoas entenderem que essa também é uma vertente minha”.
Enquanto artista que se movimenta, de fato, pela arte, ela admite que seu maior prazer é construir. E finaliza, dando um spoiler: “O Rock in Rio está contando uma trajetória minha. Vou cantar desde as minhas primeiras músicas até essas do álbum”. Será que estamos preparados para esse repertório gigante de seis anos sintetizados em uma hora?