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Com o teleférico parado, moradores da Palmeiras perdem acesso à renda, direitos e transporte de qualidade

A estação Palmeiras reunia turistas que movimentavam o comércio, tinha clínica da família e biblioteca para crianças
Foto: Marlon Soares / Voz das Comunidades

Há quase oito anos o teleférico do Alemão está desativado. Nesse tempo, moradores dos arredores viram sua fonte de renda e seu acesso à cultura, lazer e educação pararem junto. O espaço, além de ser usado para transporte, também levava acesso a direitos que hoje em dia se tornaram escassos na região da Palmeiras. 

Laureana Souza, de 38 anos, é mineira e chegou na localidade há 13 anos, na época da  inauguração  do teleférico. Junto com a família, abriu um pequeno comércio que atendia os visitantes. Ela conta que o transporte levava turistas e isso movimentava a economia. E era assim que ela conseguia sustentar seus 7 filhos. 

“Quando o teleférico tava aí tinham várias campanhas, antigamente tinha muita mídia. Não só o governo esqueceu, antigamente as pessoas vinham ajudar as crianças. Hoje não vem mais. Pessoas num lugar esquecido, são esquecidas também” comenta.

Laureana conta que precisou trabalhar fora para poder sustentar os filhos depois que o teleférico fechou
Foto: Marlon Soares / Voz das Comunidades

Laureane lembra também que além do transporte sobre cabos, havia também na estação uma clínica da família, biblioteca e espaço com computadores, que foram tirados com a desativação. “Eles não tiraram da gente só o teleférico, tiraram a nossa renda, os médicos. […] tá muito difícil, educação, transporte, tudo”, desabafa.

A subchefe de restaurante Anitta da Silva, de 43 anos, também perdeu seu comércio com o fechamento do teleférico e conta que leva duas horas para chegar no trabalho em Vila Isabel. Se o teleférico estivesse funcionando ela levaria apenas 10 minutos para chegar no ponto de ônibus.

Para subir, ela conta que é ainda mais difícil e leva 20 minutos para chegar em sua casa, no alto do morro. “Agora é tudo lá embaixo. Ou você desce ou fica aqui em cima ilhado. Eu subo e desço a pé, moto-táxi todo dia pesa no bolso, filho, aí vai tirar de onde não tem. Para descer é mais rápido, porque todo santo ajuda, mas pra subir nenhum empurra!”, comenta.

A previsão de retorno do teleférico mudou várias vezes. Primeiro, foi prometido voltar a funcionar em 2023, depois mudou para o primeiro semestre de 2024. Uma das dificuldades enfrentadas é o fato da  empresa francesa Poma ser responsável pela tecnologia usada nas peças que compõem os cabos de sustentação das cabines. Segundo documentos obtidos pela CBN, o contrato foi redigido e estava em análise jurídica em março deste ano. Na documentação,  o prazo para o teleférico funcionar é de 345 dias a partir da assinatura. 

A Secretaria de Estado de Infraestrutura e Obras Públicas (SEIOP) não informou o prazo para entrega da obra e o valor gasto. Diz em nota que “o processo de contratação da empresa fabricante do cabo de sustentação das gôndolas está em curso” e que estão “em fase final dos serviços.”

Perguntamos também se o espaço poderia ser usado por outros órgãos públicos para saúde educação. A pasta diz que apenas com a conclusão das obras. Questionamos ainda como as obras acontecem na estação da Palmeiras já que o espaço está sendo usado por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). A SEIOP informa que ocorrem de acordo com a liberação do lugar.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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