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‘A ginástica salvou a minha vida’; Conheça os projetos de ginástica rítmica do Salgueiro e da Mangueira

Oferecido em projetos sociais de escolas de samba, ginástica rítmica trabalha corpo e mente de jovens meninas
Foto: Uendell Vinicius e Selma Souza / Voz das Comunidades

No entardecer da quadra poliesportiva da vermelho e branco sonhos são construídos. Crianças correm, se alongam, dançam e fazem acrobacias aos olhares atentos da professora e dos pais, que assistem tudo sentados na arquibancada. “Eu vou ser a próxima Rebecca Andrade”, diz Valentina Peruzzi de 8 anos com os olhos brilhando. Chegar onde a maior medalhista olímpica brasileira chegou é o sonho de setenta meninas que fazem parte do projeto de ginástica rítmica da Vila Olímpica do Salgueiro, localizada no Andaraí, Zona Norte do Rio.

O projeto, Rio em Forma, foi idealizado em 2022 pelo então presidente da Federação de Ginástica do Estado do Rio de Janeiro, Bruno Chateaubriand, e desenvolvido por Viviane Andrade, campeã brasileira e sul-americana de ginástica. Com o apoio da Prefeitura do Rio, o objetivo principal é democratizar o acesso a ginástica rítmica e oferecer essas aulas para crianças dentro das quadras das escolas de samba. O Salgueiro foi a primeira escola a aceitar o projeto. Guilherme Schleder, então secretário municipal de esportes, em parceria com André Vaz, presidente do GRES Acadêmicos do Salgueiro, ativaram o projeto que existe há dois anos.

Para a treinadora Viviane ver esse projeto ganhar vida é a realização de um sonho. “Eu sou uma apaixonada pela ginástica, estou nesse meio desde 8 anos e sou salgueirense de coração. Sempre desfilei. Sou apaixonada pela escola. É unir o útil ao agradável”. Ela conta que se emocionou muito quando surgiu a oportunidade de montar esse projeto e principalmente pelo Salgueiro ser a primeira escola a oferecer. “Além de ser a minha escola, era um sonho oferecer esse esporte de elite para crianças que não tinham condições financeiras”, conta Viviane emocionada.

Hoje, o projeto atende gratuitamente 70 crianças entre 5 e 17 anos, com aulas as terças e quintas no período da tarde e da noite. As aulas são de ginástica rítmica, mas Viviane conta que consegue dar uma introdução na ginástica artística também, que e popularizou bastante com o sucesso da medalhista Rebecca Andrade. “Desde as Olimpíadas, estamos tendo uma procura muito grande. Já tínhamos lista de espera para as as aulas, agora ela triplicou”. A treinadora explica que as aulas exigem uma atenção muito grande por parte dos professores por conta das inúmeras acrobacias e por conta disso não tem como ter turmas muito cheias, mas existe a expectativa de abrir mais turmas e oferecer a modalidade para mais idades também.

Criadora e treinadora do projeto, Viviane Andrade. Foto: Uendell Vinicius / Voz das Comunidades

“A gente começa a perceber na prática quanto talento temos escondido por falta de oportunidade. E elas não teriam oportunidade de experimentar essa atividade na escola. Temos meninas super talentosas”, conta Viviane, que ressalta que além da parte artística, a ginástica ajuda na saúde também. É o caso da Alice Gonçalves, 13 anos, que desenvolveu um problema de postura no quadril e na coluna e só a ginástica conseguiu ajudar ela. Alice perdeu o timing da cirurgia para consertar a postura do quadril e o médico sugeriu que ela procurasse o ballet clássico ou a ginástica. “A ginástica salvou a minha vida. Tudo melhorou depois que eu comecei no projeto. Minha postura e minhas dores melhoraram e eu amo me apresentar em público. Não vejo a hora de começar a competir”, conta a atleta.

Alice conta que a ginástica salvou a vida dela. Foto: Uendell Vinicius / Voz das Comunidades

O sonho de competir já está começando a se tornar realidade. As meninas da ginástica rítmica do Salgueiro começarão a competir esse ano, depois de dois anos de treinos. Mas além das competições, o projeto sempre une o samba a ginástica e as alunas constantemente se apresentam na quadra da escola, em eventos. “Elas vão começar a competir agora e elas também recebem convites para as apresentações. É um esporte caro, né? As bolas são caras, fitas, arcos… Além das roupas que precisam de um certo luxo e pedraria. Mas estamos conseguindo. Eu sempre me emociono ao falar dessas meninas, sou uma apaixonada pelo projeto. E sempre unimos ele ao samba do Salgueiro”, conta Viviane.

Ritmo, simpatia e elegância em Verde e Rosa

Assim como a nossa equipe encontrou as meninas do Salgueiro, na Mangueira não foi diferente. Era uma sexta-feira quente no Rio de Janeiro e para as meninas da ginástica rítmica da verde e rosa, parecia que o calor não incomodava. Quando chegamos no Centro de Referência Esportiva da Mangueira, na Zona Norte do Rio, o grupo se preparava na quadra poliesportiva da instituição. Algumas meninas estavam sentadas, dando os últimos retoques na maquiagem, enquanto trocavam sorrisos rápidos. Outras, preparavam o corpo. Um giro rápido, a perna esticada… Duas mais baixinhas davam estrelinhas em um completo e harmonioso sincronismo. Parece que uma é sombra da outra.

Meninas da Ginástica Rítmica da Mangueira com a professora Guta
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Donas de completa elegância e sorrisos simpáticos, o grupo de ginástica rítmica é coordenado pela professora Guta que, antes de falar com a nossa equipe, avisa as meninas. “Gente, esse é o Rafael! Ele é do Voz das Comunidades. Vou bater um papo rápido com ele. Enquanto isso, vão aquecendo que a gente já começa!”. Mesmo com os olhares curiosos para mim, o grupo obedece. Todas vestindo o collant nas cores verde e rosa, os movimentos que antes eram leves, se tornam mais intensos. Lembra da duplinha que davam estrelinhas em sincronia? Agora elas fazem de forma alternada, uma ajudando a outras. As meninas mais altas, esticam a perna no chão e apoiam o corpo sobre os pés, parecendo que o corpo não tem limitação de até onde pode ir.

Guta Buarque é a professora e técnica do grupo de ginástica rítmica da Mangueira do Futura. Ela está há 24 anos na função e falou quanto é realizada pelo projeto que já levou as meninas para diversos palcos para apresentação. “Quando eu comecei aqui, ainda era GRD, que era um esporte muito elitizado e poucas crianças conseguiam fazer. A Mangueira foi uma das primeiras instituições a oferecer a ginástica rítmica para as crianças e desde então agente vem construindo junto com as meninas, oferecendo essa modalidade com acesso e permanência. Então é uma alegria imensa. É muito gratificante”.

Guta conta que a Escola Bolshoi de Ballet realizou uma seletiva na quadra do Instituto Mangueira do Futuro. Com mas de 100 crianças inscritas, três meninas da ginástica rítmica da Mangueira foram selecionadas. “A gente tá muito feliz realizada pelo trabalho que elas vem fazendo e por toda a dedicação e coração que a gente tem nesse trabalho. Estou muito satisfeita sabendo que elas vão voar e que outras tantas passam também voar! O mundo é delas!”, responde Guta animada, que também revela o seu sonho para as meninas da ginástica rítmica. “Quero ver cada uma delas muito bem encaminhadas. Seja como atleta profissional, seja como uma grande bailarina numa companhia ou qualquer outra carreira que elas escolherem. Quero vê-las muito bem sucedidas e que possam se orgulhar e orgulhar também as pessoas que acompanham suas trajetórias”, finaliza.

“Aqui é como uma família para mim”

Tati Perrota, que integra o setor de Comunicação do Instituto Mangueira do Futuro e nos acompanhou durante a visita, brinca que Guta, além de ensinar ginástica rítmica, treina as meninas até para entrevistas. E esse repórter confirma o fato, pois Ana Késia, de 12 anos, Agatha Pereira, de 18 anos, Yasmin Cristina, de 15 anos e Barbara de 11, expressam uma grande simpatia em falar com a nossa equipe. Elas falaram o quanto são realizadas em participar de integrar a ginástica rítmica da Mangueira.

Sorridente Ana Késia diz que “o que me dá orgulho é que aqui tem gente que me ajuda. E também que eu estou evoluindo muito. Eu gosto muito de estar aqui e sou muito orgulhosa da minha equipe e da minha professora. Eu gosto muito delas. Elas são minha segunda família.” Para Agatha Pereira, é gratificante estar junto das colegas e da ‘Tia Guta’, pois são essenciais para sua vida. “Elas me ajudam muito, tanto em assuntos particulares como de ginástica e o que me move são elas. Estar na companhia delas”.

Ana Késia (esq.), Agatha Pereira, Guta, Barbara e Yasmin
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Das entrevistadas, Barbara Cristina é a menor do grupo. Com 11 anos, Barbara mora em Manguinhos e quem a leva para os treinos é sua avó. Ela valoriza o elo que tem com as colegas. “Eu gosto de treinar, de apresentar e de estar com elas aqui na quadra.” Perguntada sobre o seu sonho, com brilho nos olhos, ela responde que quer dar aulas de ginástica rítmica. Yasmin Silva, moradora da Mangueira, faz parte da Vila Olímpica há 10 anos e vê na ginástica rítmica, assim como todo o complexo esportivo, um local de grande importância para sua trajetória. “Isso faz parte de quem eu sou e quem me tornei enquanto atleta. As meninas me transformam e eu aprendo muito com elas. Tia Guta é uma técnica excelente e eu me inspiro muito. Ela é como uma mãe e as meninas são como minhas irmãs e todas elas estão sempre aqui para o que eu preciso.”

Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

O Instituto Mangueira do Futuro é aberto ao público e recebe jovens e adultos de todas as idades. Junto com as outras modalidades, a ginástica rítmica é um destaque do complexo esportivo. “Para quem quiser vir conhecer a gente, venha. Somos assim! Aprendemos e ensinamos muito, com simpatia, boa vontade, dedicação, comprometimento e muito incentivo pra ajudar da molecada em suas trajetórias”, completa Guta. As aulas de ginástica rítmica são diárias no Instituto Mangueira do Futuro. Nas segundas, quartas e sextas, as aulas são no turno da tarde. Terças e quintas, no período da manhã.


Para conhecer um pouco mais das atividades oferecidas, acompanhe o Instagram das vilas olímpicas:
No Salgueiro, o Instagram é Vila Olímpica do Salgueiro (@vilaolimpicasalgueiro) • Fotos e vídeos do Instagram. As atividades da Mangueira podem ser acompanhadas no perfil Instituto Mangueira do Futuro (@mangueiradofuturo) • Fotos e vídeos do Instagram

Texto: Samantha Millan / Rafael Costa
Produção: Samantha Millan / Caio Viana
Fotos: Uendell Vinicius / Selma Souza

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Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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