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Marton Olympio, roteirista negro conta sua história: ‘Eu fui mordido muito cedo pela literatura e ela que me trouxe até aqui’

Ele retrata a realidade positiva de personagens negros na Televisão Brasileira
Marton Olympio. Foto: Vilma Ribeiro/Divulgação

Marton Olympio. Não apenas um nome artístico e sim uma carreira imensa.

Seu primeiro nome veio em junção do nome de sua mãe Marlene, com seu pai Arauton, cirurgião dentista. Nascido em Marechal Hermes e criado até os dez anos em Brás de Pina, localidade dentro da Penha, Zona Norte do Rio de Janeiro, Marton Olympio… Aliás, Marton da Silva Santos (seu verdadeiro nome) impactou sua escrita. Diretor e roteirista, Marton recria e humaniza narrativas de pessoas negras e suburbanas dentro da dramaturgia brasileira. Em sua trajetória, carrega filmes e séries de peso como Anderson Spider Silva; O alemão 2 e 3; Cidade dos Homens (2ª temporada); Os Experientes; Sequestro Relâmpago, além de outros.

Na adolescência, foi com sua família para a Zona Sul do Rio, estudou no Colégio São Bento. Ele reflete sobre o período violento que viveu: “Éramos os únicos pretos, meu irmão e eu. Eu era chamado de neguinho e meu irmão de negão. Duramos dois anos dentro da escola, depois fui convidado a me retirar pelo próprio reitor, Lorenzo, por ser um artista”, conta Marton. Resgatando a memória com a literatura, ele busca a resposta nas lembranças. “Eu escrevo desde os 12 anos, como uma forma de escapar da realidade. Com a separação dos meus pais aos meus 17 anos, eu voltei ao subúrbio, fui morar com meu avô no Barreto, São Gonçalo”. E continua: “Os cronistas, os contistas, Fernando Sabino, Carlos Drummond, teve uma época que assinei o clube do livro e chegava livros. Até que um momento o dinheiro rareou e o livro se tornou um luxo!”, detalha o roteirista.

As bibliotecas públicas funcionaram como um oásis para essa ânsia de literatura de Marton, a partir deste momento, sua mãe o levou para conhecer a Biblioteca do Museu do Exército: “Eu fiquei louco quando eu vi aquela quantidade de livros!”, emocionado conta o diretor Olympio. 

Como contar uma história

O escritor mostra os incômodos que a TV Brasileira trouxe com muita naturalidade e ao mesmo tempo, busca retratar uma outra realidade “A dramaturgia brasileira sempre usou desta narrativa: o subúrbio como fim ou o começo, às vezes a pessoa vive ali e é super feliz”, conta. Marton, roteirista de grandes títulos, detalha como foi a escrita e concepção do material: “Toda vez que eu tô numa tensão extrema, eu solto um alívio cômico, trago um ping pong no Alemão [longa] e no Anderson [série]. O filme Alemão 3 é a nossa ambição, estou fazendo o Asfalto Moovie, a estrutura tá bem bacana, a narrativa fala bastante sobre armas, a violência urbana e como ela impacta a violência dentro da favela”, fazendo uma contranarrativa para a manutenção das políticas de guerras em territórios marginalizados.

Enquanto, na série do Anderson, se conecta e humaniza seus personagens: “Quando eu cheguei no projeto do Anderson [série], eu não queria fazer uma história de violência, de luta, de colocar corpos negros se batendo. Aí eu fui ver a família do Anderson e tem uma família f*&#! O Anderson é uma história sobre família. No Alemão 2 acontece a mesma coisa, tem uma cena do traficante falando do sonho dele, em ser militar. O personagem do Digão com o vulgo de Soldado, em que o personagem não foi militar por causa da asma. É um cara que não entra em casa com a arma”, a sensibilidade traçada com esses perfis. 

A paternidade negra aparece como elo nas narrativas dos seus filmes e séries. Marton é pai de dois filhos e isso é um filtro onde as histórias se conectam: ele [Anderson Silva] teve amigo imaginário, família grande e pai ausente e outros pontos em comum com a minha história. “Geralmente, Seu Jorge [enquanto ator] só morre, mas na série do Anderson, ele tem um papel saudável, ou pelo menos que ele fica vivo, as pessoas passam a aderir. A educação com as imagens cria-se uma outra realidade, onde as pessoas possam se enxergar”, esclarece o roteirista como é importante trabalhar bem os personagens para que eles possam se desenvolver.

Mercado de trabalho para pessoas pretas dentro do cinema brasileiro

O roteirista Marton é publicitário de formação com destaques em campanhas e filmes publicitários. Mas sua grande ambição e plano era o cinema, entrar no mercado da dramaturgia brasileira. “Eu achei que ia chegar no cinema através da publicidade, mas não tinha gente preta em lugar nenhum”, conta sobre a escassez de representatividade dentro da profissão. As marcas de uma série de violências perpetua e incide sobre o profissional: “Tem toda a insegurança que a gente tem quando a gente é preto: das coisas faltarem, uma insegurança que eu carrego até hoje e foi muito trabalhada na terapia”, relata o diretor Marton. E hoje, o mercado carece de diversidade: “Chega alguns produtos e os cara olham e não sabem se é bom ou se é ruim, essas pessoas não sabem mas não foram formadas em dramaturgias pretas”, aponta o roteirista.

Audacioso, corajoso e criando seu próprio roteiro de vida, Marton soube ganhar no bom papo, na conversa seu próprio espaço dentro do mercado: “Tem a ver com estratégia, com sorte e muito a ver com o espiritual. A escrita tem que ter talento, e eu sempre via uma porta, uma oportunidade. A maturidade emocional traz essa coisa de estratégia, nas entrevistas com pessoas brancas, eu sempre usava recursos que eu via que agradava a eles”, detalha sobre o inicio de sua carreira dentro da TV brasileira. Sua trajetória conseguiu uma constância de trabalho: “É muito doido a vida, foi por causa da série Santo Forte que eu cai no longa Relâmpago, uma coisa vai puxando a outra,” conta empolgado Marton sobre como deu certo. E continua: “eu fui contratado por causa do roteiro, não por causa do filme, viram meu trabalho e gostaram. As pessoas perguntavam quem é esse roteirista?”, mostra com segurança o lugar que ele quer estar.

Com seu mais novo trabalho em parceria com a Jéssica Queiroz, Passinho: O Ritmo dos Sonhos, série da Disney+ Original Production, a trama trabalha corpos e pessoas negras vivendo sua vida e seu sonho através da manifestação cultural, com o elenco todo preto mas sem nenhuma disputa racial ou conflito, dando possibilidade de um história saudável.

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PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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