Daniel Paulino e Gustavo Lopes
Voz das Comunidades Alagoas
De acordo com dados levantados pela Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-AL), os índices de violência só cresceram em Alagoas nos últimos quatro anos. De acordo com o levantamento feito pela OAB-AL, o tipo de violência que mais vem crescendo com intensidade são espancamentos, que é caracterizado como agressão física ou linchamento, que vem sendo motivado pela sede de vingança e a sensação de impunidade e insegurança no estado.
No ano de 2013, a polícia registrou sete ocorrências de espancamento. Já de janeiro a outubro de 2014, trinta e oito ocorrências relacionadas a espancamento foram registradas pela Polícia Militar no estado, quase o dobro de todo o ano passado. Das trinta e oito vitimas oito vieram a óbito, sendo 27 registrados em Maceió e outras 11 no interior do estado.
Em entrevista concedida ao Portal Voz das Comunidades Alagoas, o integrante da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-AL), Daniel Nunes, disse que a órgão acredita que setembro de 2013 pra cá, só cresceu o clima de insegurança e isso acabou influenciando o aumento da vulnerabilidade e a sensação de insegurança acabou aumentado.
”No início desses fatos, não houve medidas enérgicas tomadas pelos poderes públicos para combater esse tipo de violência. Só após alguns casos da morte de pessoas inocentes, houve um compromisso maior por parte das autoridades em relação ao caso, pois ninguém pode sair agredindo e depois alegar que foi legítima defesa”, afirmou.
Os dados que mais chamam atenção dos membros da OAB-AL são de homicídios, que lideram o ranking das estatísticas. De acordo com os dados, os homicídios tiveram um alarmante índice de crescimento no estado de Alagoas. Os dados mostram ainda um acelerado crescimento da prática criminosa. Entre 2002 e 2014, quase treze anos de diferença, os homicídios cresceram 206,87% em todo o estado.
Segundo dados do Mapa da Violência no Brasil, feito pelo Ministério da Justiça em 2014, só na última década cerca de 18 mil pessoas foram assassinadas no estado que tem o titulo do estado mais violento do país. Ainda segundo o mapa do Ministério da Justiça, em 1998, Alagoas ocupava o 11º no ranking dos estados mais violentos e, logo em seguida, subiu para o 1º estado ultrapassando as grandes e violentas cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, e Espírito Santo.
De janeiro a outubro de 2013 foram registrados 663 homicídios. Já durante o mesmo período, no ano de 2014, houve uma pequena redução nos índices, mas nada que não deixa que preocupação saia do foco. Em 2014, de janeiro a outubro foram registrados 661 homicídios no estado. Em 2013, a polícia alagoana também registrou 16 mortes de moradores de rua e até agosto de 2014 já foram registrados vinte e um casos de moradores de rua assassinados em Alagoas.
Em contato com o tenente coronel Louvercy Monteiro, comandante do Comando Policiamento da Capital (CPC), ele afirmou que a Polícia Militar está fazendo o possível para combater e reduzir esses números. ”De 100 homicídios ocorridos em Maceió, 95 deles estão ligados ao tráfico de drogas, muitas vezes as vitimas não são usuários e muitas vezes é disputa por ponto de venda de droga e dentre outras causas”, afirmou.
O coronel afirmou mostrou ainda que a policia está buscando de diversas formas combater esses homicídios que vem crescendo em Maceió. ”Estamos reforçando policiamento, rondas nos bairros onde existe maior índice de homicídios e violência, intensificando rondas e abordagens a coletivos, veículos motos e ônibus para que possamos ver uma certa redução desses índices”, finalizou.
Já no interior do estado, os números registrados são alarmantes e obtiveram um aumento significativo. Em 2013, foram registrados 1.206 homicídios em todo o interior do estado. Já de janeiro até outubro do corrente ano, foram registrados 1.997 pessoas assassinadas. O significativo aumento dos homicídios no interior se atribuiu a falta de estrutura, pouco efetivo para a Polícia Militar e a falta de viaturas para que possam atender toda a demanda.
”Esse ano, os homicídios tiveram um pequeno índice menor do que o registrado em 2013, mais temos que ter um comparação com os índices que foram apresentados 2002″, frisou Daniel Nunes.
Ainda segundo o integrante da Comissão de Direitos Humanos da OAB-AL, o comentário de que as armas de fogo chegam até Alagoas através das fronteiras e tem se intensificado a segurança nas saídas e entradas do estado é conversa fiada. Daniel disse que a Operação Teorema, desenvolvida pela Polícia Civil, é uma prova de que as armas são comercializadas dentro do estado de Alagoas.
”A solução para a segurança pública do estado de Alagoas vai muito além de o aumento do efetivo das policiais, além disso, que é muito importante é preciso o aperfeiçoamento, treinamento de qualidade, aparato, aumento significativos dos salários dos profissionais, incentivo e muitos investimentos em equipamentos para esse combate”, ressaltou.
Outros dados que vem preocupando a OAB-AL são os números de pessoas assassinadas em confrontos com a polícia em Alagoas. Em 2013, foram registrados 21 casos. Já em 2014, foi registrado quase o triplo em relação ao mesmo período do ano passado. De acordo com os dados, de janeiro a outubro de 2014, cinqüenta e sete pessoas foram mortas durante troca de tiros com a PM em operações e abordagens policiais.
Os dados mostram ainda, que em 2014 não existe registro de casos de pessoas mortas em confrontos com a Polícia Civil de Alagoas. Outro dado que chama atenção, são o número de policiais assassinados no estado. Em 2013, apenas oito casos de PM’s mortos foram registrados e em 2014 o número chegou a dobrar. No corrente ano foram registrados a morte de 16 policiais militares sendo 14 mortos por criminosos fora do horário de trabalho e outros dois durante o horário de trabalho.
Segundo Daniel Nunes, o embate entre Polícia X Criminosos é uma guerra sem fim, pois a polícia mata e acaba também morrendo e tudo isso é motivado pela sede de vingança que parte dos outros criminosos. ”A policia de Alagoas até pode ser a que mais mata mais também e a policia que mais morre. Esse confronto entre Polícia X Criminoso, que ceifa com a vida dessas pessoas envolvidas no mundo do crime, acaba aumentando o número de mortes de PM’s porque eles estão na vulnerabilidade e acaba se tornando uma verdadeira guerra”, desabafa.
Sobre o Plano Brasil Mais Seguro, Daniel Nunes disse que o plano foi muito importante para a redução dos números, mais ainda falta outro lado desse plano, que é de responsabilidade do Governo do Estado. ”O Plano Brasil Mais Seguro trouxe várias ferramentas importantes para o estado de Alagoas como equipamentos para a Polícia Militar, Polícia Civil, Pericia Oficial, Corpo de Bombeiros e outros setores, só que está faltando o lado do estado nesse plano, que devido à divida pública não vem sendo cumprido, que é a valorização dos profissionais que defendem a população e representam o estado”, finalizou.