A Praça de Inhaúma foi o espaço escolhido para a realização da sétima edição do Arraiá do Alemão que aconteceu nos dias 08 e 09 de junho. O evento organizado pelo Voz das Comunidades reconectou os moradores de favela da cultura, culinária e entretenimento típicos das festas juninas e movimentou a economia.
Quarenta mil pessoas circularam pelo evento para curtir uma programação diversificada com forró, samba, axé, apresentações de quadrilhas juninas, brinquedos para as crianças e muita comida. O objetivo do evento é destacar as raízes nordestinas trazendo grandes artistas como Daniela Mercury e Tiee e atrações locais: Cassiano Beija-flor que desde a primeira edição se apresenta no Arraiá, DJ Tigo, Rayanne Show, Quintal da Magia e Rosy Campbell.
O melhor da cultura nordestina em Inhaúma
Esse ano, o Arraiá do Alemão teve dois palcos homenageando os reis do baião dos anos 50: o pernambucano Luiz Gonzaga (13/12/1912 – 02/08/1989), artista famoso conhecido por sucessos como “Asa Branca”, “Luar do Sertão” e a carioca Carmélia Alves (14/02/1923 – 03/11/2012) que entre os seus sucessos estão as músicas “Sabiá na gaiola” e “Lorota boa”. O baião é um ritmo musical nordestino que une viola caipira, flauta doce, acordeão, triângulo e zabumba.
A atração mais aguardada do evento foi Daniela Mercury que trouxe o axé da Bahia para o Arraiá, em uma linda apresentação no encerramento da festa. Ela disse estar realizada com a apresentação porque já promove festas nas comunidades baianas e queria expandir. “Eu quero mostrar que a comunidade faz festas lindas, que a cidade inteira tem que vir prestigiar e estar aqui me aproxima de vocês”, conta a cantora. A artista convidou o grupo mareense Dance Maré para se apresentar com ela.
Rose Campbell trouxe muito forró para animar o público. “Eu tô muito feliz. Quando você chega no palco, você sente aquela energia imensa […] eu só tenho que agradecer a Deus, primeiramente, e a quem gosta de mim”, declarou. Rayane Show fez jus ao seu nome com uma apresentação que botou o público pra dançar ao som do pizeiro e forró romântico.
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades
Foto: Hector Santos / Voz das Comunidades
No palco principal Cassiano Beija-flor trouxe o tradicional forró pé-de-serra com muita homenagem a Luiz Gonzaga, Alcymar Monteiro, Flávio José e Alceu Valença. O artista, que se apresenta com seu trio, fala a respeito do carinho do público no arraiá. “Todo ano é essa coisa boa e eles [o público] estão prestigiando.Trouxemos a galera pra gente esse ano pra dançar” pontua.
O cantor de “sertanejo favelado” Sávio Araújo cria da Kelson’s encerrou a noite de apresentação do primeiro dia. Empolgado, ele diz que se sente em casa e agradeceu pela oportunidade. “Estamos aqui pelo segundo ano consecutivo. É uma responsabilidade grande mas eu tô confortável “, comenta.
Foto: Uendell Vinicius / Voz das Comunidades
O DJ Tigo, que antes ficava nos bastidores na equipe de produção do evento, dessa vez se apresentou nos dois dias e nos dois palcos. Ele também destacou a alegria e a valorização da cultura nordestina. “Estar no Arraiá do Alemão tocando para esse público, gigantesco, foi importante pra mim. Com certeza já marcou a minha carreira como DJ”, destaca.
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades
Arraiá em família
O público do Arraiá do Alemão foi diversificado, com pessoas de todas as idades. Segundo pesquisa de público realizada através do aplicativo Voz das Comunidades, a maioria dos frequentadores têm entre 42 a 51 (25,3%), seguidos por pessoas de 52 a 61 anos, representando 19,6% do público, e de 32 a 41 anos, com 18,6% dos frequentadores. Acima de 62, 12,8%. A faixa etária de 22 a 31 foi representada por 16% do público e apenas 7,7% com idade de 14 à 21.
Vindos de diferentes lugares, o público deu o tom da festa com muita animação, mostrando que o clima de São João nordestino invadiu as terras cariocas. Pessoas de todas as idades prestigiaram o evento. A gratidão e elogios em relação à organização foram unanimidade nas entrevistas.
Para a maranhense da cidade de Cururupu, Iris Ramos, de 32 anos, diarista, moradora de Inhaúma, as quadrilhas foram as principais atrações do evento. Com as apresentações cheias de beleza, ela diz que conseguiu matar um pouco da saudade. “Eu sou nordestina raiz. Pra mim eu tô em casa. O melhor lugar do mundo pra mim é onde tem essas coisas que me fazem lembrar meu lugar”, afirma.
Foto: Vitória Corrêia
A professora Margarete Calvat, 47 anos, mais conhecida como Margot, veio a caráter para o Arraiá. Cria de Andaraí, contou que estava aproveitando o pagode antes da apresentação das quadrilhas. “Estamos aqui adorando esse ritmo de macumba, ui, um luxo! Eu venho a caráter, né, festa junina?”, brinca.
Juliana Firmino aproveitou o Arraiá com o marido Cristiano de Oliveira de 32 anos e os filhos. Assistiram as quadrilhas, aproveitaram a programação infantil com pescaria e touro mecânico. “É bom esses eventos que dá para trazer as crianças, porque a maioria é só para adultos e esse aqui não. A gente vem com as crianças, curte um pouco e depois vai pra casa feliz”, declara.
O casal de empreendedores Cristiane e Leonel de Oliveira, de 37 e 42 anos, vieram com a família da Alvorada no Cpx do Alemão para o Arraiá. Cristiane ressalta a importância de programações como as que aconteceram para a comunidade. “A gente gosta da época de festas juninas pela comunidade, que proporciona divertimento para a gente trazer também as nossas crianças.”
Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades
Quadrilhas juninas encantam o público
Cinco quadrilhas encantaram o público que assistiu tudo da arquibancada e nos telões montados no evento. As Quadrilhas Santa Rita, São Judas, Dançart, Fazendão de CG e Forrozão abrilhantaram o Arraiá com muito Frevo, xote, axé, xaxado e baião e até funk!
As quadrilhas Santa Rita, São Judas, Forrozão Junino e Fazendão de CG trouxeram para o Arraiá as danças e roupas tradicionais enquanto a Dançart mostrou a quadrilha estilizada, homenageando o estado do Pará, região Norte do país. ”Essa é a nossa maior apresentação e pra gente é muito bom trazer nossa cultura que é quadrilha de salão com um tema regional que é o Pará, suas lendas, danças, comidas, e religiosidade” pontua o presidente da quadrilha Leandro da Silva, de 38 anos.
A quadrilha São Judas, vinda de Anchieta, encantou o público com seu enredo “Fagulhas”, espetáculo que contou a história de dois jovens apaixonados que se conheceram em uma festa de São João.
A quadrilha São Judas trouxe doze pares para se apresentarem no Arraiá do Alemão e homenageou o rei Luiz Gonzaga e o rei do forró Alcymar Monteiro, com um enredo de rivalidade entre os dois artistas. “Guerra no sertão ou amor no coração?” “Batalha entre reis faz a festa no São João”. Ao final deu uma lição de que festa boa tem união, amor e paz.
Expectativas superadas
A organização do evento selecionou vinte empreendedores para colocarem barracas no Arraiá, com vários tipos de comidas. Teve pipoca, churros, baião de dois, tapioca recheada, curau, canjica e muito mais para todos os gostos. O evento em Inhaúma movimentou 600 mil reais nos comércios durante os dois dias de evento.
A empreendedora da Ale Pipoca Gourmet, Alessandra Moreira, de 51 anos, moradora do Morro do Adeus, disse que vendeu toda a pipoca dos dois dias só no primeiro dia do evento. “Eu fiz uma base de 10kg de pipoca. Tô impressionada até agora. Esgotou tudo! Só tenho que agradecer”, comemora. A maçã do amor não pode faltar e Denise Silva, moradora de Cavalcanti, viu que não tinha ninguém vendendo no primeiro dia e no domingo já levou. Ela diz que com essa fonte de renda criou a filha de 42 anos. “A gente vai andando por aí e vende!”, afirma.
Gisele Cristina, de 38 anos, veio de Santa Cruz com a barraca de cocadas caseiras do raimundo pela primeira vez para o Arraiá e também vendeu tudo. “Teve um movimento muito bom. Vendemos tudo”, comenta.
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades
Além das barracas dentro do Arraiá, os comerciantes dos arredores também lucram com o evento. A baiana Vilma Freitas, de 72 anos, moradora de Vicente de Carvalho, veio com acarajé vender no Arraiá. “Apesar de ser festa junina, eu e minha irmã sempre colocamos acarajé e o pessoal adora!”, conta.
O fundador da ONG Voz das Comunidades, Rene Silva, comenta sobre o sentimento com o sucesso do evento. “Estamos realizados! Com o encerramento desta edição, fica o sentimento de gratidão pela comunidade que se uniu em torno dessa celebração, fortalecendo os laços de solidariedade e resiliência que definem o espírito do Complexo do Alemão. Até o próximo ano, com mais música, dança e alegria para compartilhar!”, finaliza.