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Com direção e elenco do Vidigal, ‘A Festa de Léo’ estreia dia 30 de maio nos cinemas: ‘uma vitória do audiovisual trazendo diversidade às narrativas’

Em entrevista exclusiva ao Voz das Comunidades, a atriz Cíntia Rosa e a diretoria Luciana Bezerra contam um pouco mais sobre o longa
Foto: Mariana Vianna / Reprodução

Como um brinde à arte negra e favelada, ‘A Festa de Léo’ chega aos cinemas de todo o Brasil na próxima quinta-feira, 30 de maio. Dirigido por Luciana Bezerra e Gustavo Melo, o longa-metragem levou o prêmio de melhor atriz para Cíntia Rosa e recebeu menção honrosa na premiação do XV Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa (FESTin), no Fórum de Lisboa, em Portugal. O filme é o primeiro longa produzido pelo núcleo de cinema do Nós do Morro, do Vidigal, favela da Zona Sul do Rio. 

O filme conta com um elenco de peso formado pela comunidade vidigalense. Além de Cíntia, estão Jonathan Haagensen, Arthur Ferreira, Mary Sheyla, Neusa Borges, Babu Santana, Jonathan Azevedo, Luciano Vidigal, Márcio Vito, Roberta Rodrigues e Thiago Martins.

Sucesso em festivais, “A Festa de Léo” foi exibido ao público pela primeira vez ainda em 2023 durante a Première Brasil do Festival do Rio, tendo sido exibido também na 47ª Mostra de Cinema de São Paulo e na 27ª Mostra Tiradentes. Além do FESTin (Lisboa, Portugal), onde foi premiado, o longa está confirmado nos festivais internacionais Egypt International Film Festival (Cairo, Egito) e no Imo International Film Festival (Owerri, Nigéria), marcado para novembro.

Foto: Mariana Vianna / Divulgação

Com a palavra, a atriz Cíntia Rosa 

Voz: Você dá vida à Rita, que é a protagonista e traça as dificuldades de uma mãe trabalhadora que ainda tem que dar conta da irresponsabilidade do marido. Para você, como foi interpretar a personagem?

Cíntia: Primeiro, preciso dizer que tenho muito orgulho em interpretar a Rita! Ela representa muitas mulheres que passaram por minha vida e me ajudaram a estar aqui onde estou hoje. Rita é a típica mulher brasileira que acorda cedo todos os dias e sai de casa para buscar o sustento de sua família, sem uma rede de apoio para conseguir educar e criar seu filho.

Voz: Ǫuais os maiores desafios e louros da personagem? E como acha que o público a receberá?

Cíntia: O maior desafio de Rita é se equilibrar na corda bamba da vida de uma mulher com jornadas infinitas em seu dia. Os louros sem dúvida nenhuma são os amigos e principalmente as mulheres de sua vida. Sem elas, não seria possível realizar o sonho de seu filho Léo.

Cíntia Rosa dá vida à Rita no filme ‘A Festa do Léo’
Foto: Mariana Vianna / Reprodução

Acho que o público vai receber o filme com afeto, surpresa e uma identificação com a história. Por mais que seja uma história do cotidiano de uma mulher preta da favela, o filme toca em muitos pontos que podem fazer parte da vida de qualquer pessoas de outras classes sociais. O filme que Luciana Bezerra escreveu e dirigiu juntamente com Gustavo Melo, faz um debate sobre a vida de seres humanos, por isso haverá uma identificação muito grande com o filme.

Voz: Cada vez mais falamos sobre papéis de destaque a mulheres negras e mais oportunidade para artistas favelados, que são grandes potências culturais. Como se sente ao representar isso no Cinema Nacional?

Cíntia:  Uma vitoriosa! Me sinto ouvida e celebrada. Sei que o caminho é longo e nunca foi diferente para nenhuma das atrizes negras que me trouxeram até aqui. Mas esse momento é especial e conquistar esse espaço ao lado de amigos maravilhosos me faz mais forte pra continuar desbravando!

Voz: O filme se passa no Vidigal, com diversos nomes de referência artística do morro, assim como você. Olhar para o seu trabalho junto a esse elenco te desperta que sentimentos?

Cíntia: Um sentimento de amor absurdo! Olhar essa trupe de atores que não desistiram de seus sonhos junto a arte, que se apoiam um no outro e que acreditam que fazer arte transforma vidas, como transformou as nossas eu só posso estar vivendo um momento de amor profundo e de gratidão.

Voz: Há alguma outra consideração que seja importante compartilhar com o público do Voz?

Cíntia: Ǫuero dizer que foi importante sonhar e não desistir! Então, você, jovem cheio de gás e ideias incríveis, acredite em seu potencial, crie quilombos e redes de apoio com amigos para realizarem seus sonhos e sigam sempre em frente!

Com a palavra, a diretora Luciana Bezerra

Foto: Divulgação

Voz: O filme se passa no Vidigal, conta com atores do próprio Vidigal e tem na direção alguém que é cria do Vidigal. Ǫual a importância desse movimento para o Cinema Nacional? Talvez, para toda a cena artística do País?

Luciana: Acho que somos a primeira produção cinematográfica com tantos favelados e pretos na frente e atrás das câmeras e isso é histórico. Inaugura uma vitória do audiovisual trazendo diversidade às narrativas.

O Grupo Nós do Morro se destaca na cena artística já há 38 anos e, lançar um filme em que posso assinar autoria de uma história que é muito vidigalense, que conta com 47 atores que são sucesso na TV e no cinema brasileiro, podemos dizer que é a celebração de que a arte transforma – como sempre nos disse Guti Fraga, responsável pelo início de tudo.

Voz: Como foi o processo criativo para a direção de ‘A Festa de Léo’? Ǫuais e como foram os ‘dias de luta, dias de glória’?

Luciana: Longo e intenso. Primeiro, um árduo trabalho no roteiro e, depois, leituras, oficinas, visitas pelo vidigal para escolher onde se passariam as cenas e ensaios. Muitos ensaios.

Filmar no Vidigal é um desafio. Exige uma equipe muito disposta. Muita escada. Lugares apertados. Grandes deslocamentos a pé. Mas, sem dúvida, os dias mais desafiadores foram os dias de chuva. Nessa história que se passa em um dia, sendo filmado em 24 diárias. E o representante deste dia , foi o último dia de filmagem, na verdade última noite, onde fazíamos a festa e tínhamos de amanhecer e o Rio teve a noite mais fria do ano de 22. Uns 7° C. Ǫue loucura!

Voz: E o que o público pode esperar do longa? Tá permitido algum spoiler?

Luciana: Uma declaração de amor ao lugar onde eu vivo, às mulheres brasileiras e à arte que transforma vidas. Spoiler: Rita, assim como a mim mesma e as mulheres que vieram antes de mim, não é de desistir da vida.

Voz: Assim como perguntei para a Cíntia, há alguma outra consideração que seja importante compartilhar com o público do Voz?

Luciana: Ǫue é muito importante entrar nessa campanha com a gente de ir ao cinema na primeira semana a fim que o filme ganhe mais tempo que duas semanas nas salas de cinema. Ǫue nessa luta das narrativas, de apresentar também outras histórias. Personagens como Rita, cheia de sonhos e não estar apenas ancorado na violência. Irão provocar a quebra do preconceito criado pelo estereótipo.

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Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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