“Para se morador de favela temos que ser sagaz para viver. Engenheiros da vida que se viram como pode, olho a favela como um berço de conhecimento”, ressalta, Erick Soares, 20 anos, um dos primeiros jovens a ser nomeado pela UNICEF Brasil como jovem ativista.
Erick cresceu em Irajá e Brás de Pina. Atualmente, mora com sua mãe no Vidigal e conseguiu entrar na Universidade Pública do Estado do Rio de Janeiro, por meio de um pré-vestibular comunitário na Rocinha (Emancipa Pré Vest). Atualmente, o ativista, é estudante do curso de Pedagogia da UERJ e líder do Coletivo ArterAção.
A juventude no Brasil, em sua maioria preta e favela sofre um genocídio contínuo. E além disso, é muito descredibilizada com reproduções de falas e estigmas: “A gente foi a juventude do Nem Nem e também, a juventude do Mimimi”. “E a juventude tem algo revolucionário. Tem Soluções! Uma juventude potente, uma juventude braba”, orgulhoso Erick começa a contar sua trajetória.
A criação do Coletivo ArterAção, surge da extensão da dor de perder o pai para a violência urbana. “Meu pai fazia artesanato, era bom em matemática, nasceu no dia de São Jorge, ele era um ótimo comunicador, tinha que comprar fogos, ajeitar a festa. E ele se propunha a tudo isso, fico pensando onde meu pai estaria se existisse um coletivo deste na vida dele…”, relata Erick a dor que se transformou em uma vontade de mudar a realidade de crianças e jovens dentro das favelas.
“A escola se tornou uma rede de apoio para mim, eu sempre aprendia as coisas e começava a ensinar. Eu estava em diferentes projetos sociais, eu já dava aula de teatro com 12 anos, depois com 15 já dava aulas de cinema”, destaca a importância da educação em sua vida. Soares começou a dar formas para ao coletivo junto aos seus amigos, pessoas pretas e periféricas, que vieram de escolas públicas e hoje, o coletivo conta com 25 pessoas. O objetivo do projeto é fortalecer o aquilombamento e pertencimentos dos jovens, mas também, democratizar o acesso à saúde, à educação, à cultura e ação social.
Além disso, a iniciativa já contemplou mais de 500 jovens, 30 escolas em 20 comunidades diferentes na Zona Norte, com oficinas itinerantes em 4 pilares: saúde, educação, cultura e ação social. O grupo foi contemplado no programa Chama na Solução 2023, com o projeto SustentArt, uma das frentes, mistura capoeira, racismo ambiental e audiovisual, mostrando o ensino de território com novos olhares. O ativismo socioambiental se estende as oficinas de reciclagem robótica, que leva tecnologia e sustentabilidade em outro nível.
O grupo atua também em formato virtual. Há ações sociais, são elas: distribuição de livros, gibis e brinquedos. Há ações culturais: exibições de filmes em praças públicas, oficinas itinerantes nas escolas públicas. A mobilização vai ganhando outros espaços e diferentes públicos: “Começamos a pouco, o projeto ajudando em casas, estamos ajudando mulheres em situações de violências ou que precisam de apoio psicológico!”, emocionado conta o ativista.
Com as parcerias com o Subúrbio em Transe e o Telecine, foi possível exibir o filme nacional “Nosso Sonho” na Lona Cultural, em Vista Alegre, localizada em Brás de Pina, Zona Norte do Rio de Janeiro. “Ocorreu um encontro de gerações, tinha os tios e tias de 40 anos ou mais, e ao mesmo tempo, crianças e adolescentes. O Claudinho e o Bochecha são atemporais, homens pretas, favelados e contando funk, eles conseguem conectar tudo que admiramos”, comemora Soares o feito.
Expandindo os territórios, as ações avançam pela Zona Oeste: “Estamos chegando na Zona Oeste, um território grande que não tem ações culturais. Estamos com o Teatro em Santa Cruz realizando apresentações em condomínios populares.”, conta o fundador do coletivo sobre a arte e onde esperam alcançar.