Dos becos para os palcos, das batalhas de passinhos ao baile de Vogue. O show de dança “Vogue Funk” surge como uma expressão original e poderosa da união entre a cultura funk e a cultura ballroom/vogue. A arte celebra o ritmo rabiscado nos chão pelos crias ao mesmo tempo que abre espaços para as quedas e os movimentos das manas (em sua maioria, trans e travestis). Mostrando a potência das artes faveladas, expressas nos corpos periféricos, os universos – baile funk e vogue ball – se assemelham e se complementam. Assim, emerge o Vogue Funk para o mundo.
Os movimentos do funk e do vogue surgem de lugares e tempos diferentes. Entretanto, suas origens possuem em comum a raiz periférica, e predominantemente preta. Esses mundos representam uma força cultural, política, artística e social, como aponta Rafael Fernandes, diretor artístico e idealizador do espetáculo. “Ambas foram e ainda são marginalizadas, mas foi através da arte que encontraram uma forma de sobrevivência de diversas opressões, se tornando caldeirões efervescentes de produção artística e cultural. Elas representam a potência da cultura jovem e periférica colocadas em destaque, ocupando o seu devido lugar, que é o da Excelência”, ressalta.
O espetáculo tem diversas atrações especiais, e reuniu artistas periféricos que entregam qualidade em suas respectivas manifestações artísticas, como Mother Juju Ninja, líder de uma das maiores house Ballroom do mundo; André DB, que é referência mundial do passinho e atual vencedor do Red Bull Dance Internacional; Yure IDD, dj que coleciona parceria com artistas relevantes da cena, como Gloria Groove; e Kill Bill Balenciaga, uma das maiores referências do vogue no Brasil. O “Vogue Funk” sobe aos palcos com elementos de ambos os universos, como DJs, MC/Chants, Bailes/Ball, batalhas, passinhos, vestimentas características, muita atitude e coreografias, como destaca a diretora do espetáculo, Patyfudida.
“Organizamos uma série coreográfica, explorando gestos radicais que desafiam convenções, buscando reposicionar as relações históricas e culturais. Investimos em poses insubordinadas para elaborar resistências e nutrir repertórios de memórias, criando imagens que disputam novos significados e valores”, reforça Patyfudida. A presença desta obra em Copacabana desafia as fronteiras socioeconômicas e culturais, convidando um público diverso a experimentar e acolher novas vivências que, por muito tempo, foram negligenciadas. “Mais do que representatividade, estamos evidenciando a pluralidade dos nossos corpos e das nossas histórias. A prova de que enquanto artistas negros e periféricos somos multiplicidades de potências”, ela comemora este feito.
Para além de um espetáculo, “Vogue Funk” torna-se um marco cultural e histórico que disputa narrativas e abre caminho para uma transformação social. “Estamos aqui dando uma chance para a sociedade testemunhar o quanto pode ser enriquecedor para cultura brasileira dar luz às margens e deixar que elas criem suas próprias histórias”, conclui a diretora.
O “Vogue Funk” estreia nesta quinta-feira (16), às 20h, no Teatro de Arena do Sesc Copacabana e seguirá com apresentações de quinta a domingo, sempre às 20h, até o dia 26 de maio. O espetáculo faz parte da quarta edição de “O Corpo Negro – Festival de dança e protagonismo”. Os ingressos são gratuitos e serão distribuídos 30 minutos antes de cada apresentação.