Mary, uma estrangeira em busca de novas experiências no Rio de Janeiro, se vê em um pesadelo ao ser sequestrada junto com seu namorado. A noite se torna um terror enquanto a polícia tenta salvá-los. Paralelamente, Miriam enfrenta seu próprio horror ao ser assediada por um político corrupto. As duas mulheres, em situações distintas, lutam contra a violência e a injustiça na Cidade Maravilhosa.
Desculpa o spoiler, gente! Mas, pra vocês entenderem, essa é a sinopse de “Vidro Fumê”, filme nacional que estreou dia 25 de abril nos cinemas. E nele, quem dá vida a dois personagens são atores do Vidigal, favela da Zona do Sul do Rio. São eles, Ramon Francisco que vive o personagem Célio, e Francisco Assis que interpreta o ‘Moleque’.
E foi ele mesmo, Ramon, que concedeu uma entrevista para o Voz das Comunidades e falou sobre sua história e também sobre o filme.
“Quanto mais dos nossos tiver, será melhor!”, diz Ramon sobre a parceria com Francisco
A relação deles dentro e fora das telas marcam a correria dos atores da comunidade da Zona Sul do Rio: “Ele (Francisco) é um amigão, a gente já trampa juntos com o rap, temos um estúdio aqui no Vidigal. É incrível ver pessoas que vieram do mesmo lugar e trampam juntas! A gente tá conseguindo! Paralelamente, manter nossa dignidade, de outras formas, a arte cênica me dá uma possibilidade que nunca tive na vida”, carinhosamente lembra Ramon.
O artista e ator Ramon Francisco, de 28 anos, morador do Vidigal traça sua trajetória e carreira artística. “Eu vivia e sou cria do Nós do Morro. Minha mãe trabalhava lá, não tinha creche, ela tinha que me levar para todos os cantos. Eu ia para o Nós do Morro e ficava brincando. Comecei a atuar com 4 anos e fiz o clipe do O Rappa, Minha Alma, só aconteceu! O menino que estava escalado para fazer não tinha carisma. Aí me puxaram! Aí comecei a fazer filmes”, conclui o ator que tem participação nos tramas nacionais como “Última Parada 174”, “Casa Branca” e “Dona Vitória”; Ele também fez as séries “Dom” e “Arcanjo”.
A importância de ter um projeto de artes cênicas do tamanho do Nós do Morro, se manifesta na gratidão e nas colaborações: “Nós do Morro é um salva-vidas. A minha construção pessoal é pelo projeto. Foi o lugar que eu consegui ter o máximo, com os melhores professores e fonoaudiólogos. Onde eu tive vontade de falar de mim”, agradecido conta o cria sobre sua primeira escola. A continuidade é produto de muitas mãos dos moradores: “Eu somo, eu tô dentro. Isso precisa ser mantido para muitas outras crianças, mas como acesso à cultura, a falar sobre assuntos importantes. Nós do Morro cria muito caráter”, destaca Ramon.
O cria do Vidigal, o ator resgata sua memória e os caminhos que o teatro podem apresentar: “A arte conseguiu me dá diversas possibilidades, diversos outros lugares. E foi possível enxergar minha gente também, minha mãe passou a trabalhar, minha tia também. E nossa família era pobre, as coisas foram mudando. Foi me dando opção de escolha. Um outro poder, uma autoestima, uma autoestima do favelado.”
Voltando a falar do filme, Vidro Fumê é um drama é dirigido e roteirizado por Pedro Varela e retrata um episódio real de duas mulheres. Ramon retrata o filme como algo importante, uma vez que toca em pontos que são enfrentados pelas mulheres na sociedade: “O filme conta sobre um fato real que aconteceu. Trata de estupro, agressão a mulher, feminicídio… Tem um trecho que uma das personagens tenta fazer uma denúncia na Delegacia de Mulher e lá só tem policiais homens. A mulher, na sociedade é muito agredida, muito tocada, muito sexualizada, seja dentro da favela, no asfalto, nos bairros nobres…! O filme quer informar e tenta mostrar como cuidar e acolher uma mulher agredida, e até mesmo, lidar com situações de aborto ou não, questões muito delicadas. Querendo ou não, perifericamente, não é falado! Não há visibilidade sobre o assunto”, detalha o ator, que finaliza sobre a construção de Célio, o seu personagem “Ele tinha diversas pendências, não tinha apoio e acessos. Eu coloco muito nesse lugar, mas eu humanizo ele. Procuro entender. E ao mesmo tempo, para ele era natural, ele precisava de grana, ele precisava fazer aquilo”.
Confira o trailer de Vidro Fumê: