Inspirada pelos pescadores, palafitas, Baía de Guanabara e uma infinidade de símbolos da história mareense, nasceu a última coleção de verão da grife de Betto Gomes – que leva seu próprio nome -, nascido e criado na Vila do João, uma das 16 favelas da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro. ‘Maré de Peixe’ é o segundo ato de uma trilogia sobre a Maré, onde as memórias de Betto se aconchegam e se externam em forma de coleções exclusivas e sustentáveis – suas peças são produzidas com base no reaproveitamento de tecidos excedentes da indústria da moda.
Aos olhares atentos, deve ter ficado a pergunta: “Se é o segundo ato de uma trilogia, o terceiro, cadê?” Pois bem. Betto, em um spoiler muito solicitado, anunciou extraoficialmente que, no próximo verão, haverá o encerramento desta série de coleções inspiradas no conjunto de favelas que existe desde 1994. O tema da terceira e última coleção será ‘Maré de Encantos’.
O estilista de 36 anos tem como foco de criação a humanização. “Quando fui fazer moda sempre tive esse cuidado de sentir. Memórias. Existem memórias na Maré. Quero saber se aquela memória tem um neto, uma casa que a pessoa morou. Ter esse contato pra mim é muito importante. Acho que a palavra é humanizar. Quando a gente humaniza um projeto, fica claro que tem valor e propósito”, comenta.
Filho dos paraibanos Gilberto e Maria do Socorro, a memória que o carioca tem de sua infância na Maré foi de muito afeto, relembra. “Sem romantizar, mas eu fui feliz.” Uma prova concreta de como essa memória afetiva envolve seu processo criativo é o fato de seu ateliê estar localizado na casa onde cresceu. Para além do passado, no presente, Betto também gosta de cultivar um ambiente de trabalho com gostinho de lar. “O ateliê é uma casa. Aqui as meninas vêm, elas conversam, a gente tem o nosso café, a gente tem as nossas festas, as nossas comemorações. Todo dia aqui é um momento”, conta.
Betto, que já participou de reality shows como ‘Estilista Revelação’ e ‘Academia da Moda’, da Rede Globo, é grato por todo mundo que esteve ao seu lado para tudo acontecer. “Eu tenho muita gente que, sem elas, eu não estaria aqui. Eu acho que chegou a hora de eu contar essa história. Ela precisa ser vista pelas pessoas. Pela própria comunidade. Entender: tem um estilista daqui que vai lá pra fora.”
Didi, sua funcionária mais antiga, está há 9 anos com ele. A costureira de 68 anos declara que é muito satisfatório ver as peças que são fruto de seu trabalho rodando o mundo. “Eu penso: poxa, foi a gente que fez mesmo.” E confessa que nunca fica entediada. “Ele está sempre inovando, então nunca fico entediada. Com raiva sim, porque é cada doideira. Eu penso e falo: isso não vai vender. E é a primeira peça que vende!”, relata, rindo.
E sabe o que mais? “Quero inaugurar a loja número um na Maré”, entrega o estilista.