Nesse domingo, 07, o Complexo do Alemão recebeu mais uma edição do projeto Cinemão no Campo do Sargento. O Cinemão existe desde 2010 como um veículo de ocupação cultural dentro dos espaços populares, buscando contribuir para o fortalecimento de novas práticas culturais que promova diversão e arte dentro da favela, além das tradicionais, como o baile, o passinho do menó, futebol, pipa, entre outros. “Eu gosto muito de cinema, fiquei feliz em ver a criançada vendo cinema numa tela grande, muitos vendo pela primeira vez”, conta Pamela, 23 anos, moradora do Complexo do Alemão e coordenadora do projeto ArteComplex.
A sessão de cinema, em pleno ar livre e aberto para toda comunidade, contou com a exibição do documentário “A batalha do Passinho: os muleques são sinistro“, com direção de Emílio Domingos, longa-metragem vencedor da mostra novos rumos do Festival do Rio 2012. Além dos curtas o Proibidão, da repórter Ludmila Curi e o jornalista Guilherme Arruda, o Silêncio e Mariuza: é só me deixarem cantar, da equipe do Cinemão. Fechando com roda de conversa com a comunidade, sobre os filmes exibidos e um debate sobre a agenda pactuada contra o extermínio da Juventude Negra com integrantes do Fórum da Juventude do Rio de Janeiro, coletivo Ocupa ALEMÃO, Barraco #55 e a ONG Raízes em Movimento.
Durante o bate papo, uma criança pediu o microfone e perguntou: “Quando vai ter de novo?”. O que nos leva a refletir que ainda faltam políticas públicas que possibilitem a criação de novos espaços de acesso ao cinema, fora dos shoppings e dos blockbuster, dentro da comunidade que sejam contínuos. É o que acredita Wagner Novais, cineasta, cria da Cidade de Deus que atualmente mora na Taquara, “acredito ser desejo do Cinemão que a favela tenha estes espaços, assim como tem em outras áreas da cidade. O Cinemão nesse caso seria um “plus” a mais. Afinal de contas, passar um filme num espaço aberto, num campo de futebol, com debate depois é uma experiência bem legal e diferente da tradicional sala de cinema, é algo que dialoga com a cultural local que tem na rua – ao ar livre – um importante espaço de produção de cultura”.
O projeto nasceu no ano de 2010 depois da ocupação do Complexo do Alemão pelas forças armadas. A idéia é apresentar o Cinemão como a antítese do Caveirão, máquina de guerra do estado. Além de contribuir para a circulação da produção independente do cinema brasileiro, o projeto procura apresentar novas formas de ocupação territorial que tenha como base a produção de cultura e empoderamento da juventude de favela.
Até o final do ano, o CINEMÃO pretende promover 288 sessões gratuitas de cinema, seguidas de debate com os realizadores e a comunidade local, podendo atingir mais de 150.000 pessoas, entre crianças, jovens, adultos e idosos.
É Cinemão É Cinemaneiro
Além do Cinemão tem também o projeto Cinemaneiro, 10 anos de existência, como objetivo de contribuir para a democratização do acesso a bens e saberes culturais, sociais e artísticos, através do cinema e da ferramenta de produção audiovisual. O projeto realiza oficinas e cursos gratuitos de audiovisual em favelas e no final do curso cada participante tem a possibilidade de produzir um curta. O cinemaneiro foi um dos primeiros projetos a oferecer oficina de cinema nas favelas e atualmente possui um espaço criativo de produção no complexo da Maré, direcionado aos alunos interessados em continuar estudando e produzindo cinema.
A favela possui uma grande riqueza cultural dentro da cidade, movimentos como o samba e o funk imergiram dela. Entender a cena cultural, que a envolve, e perceber o espaço popular como um espaço potente, contribui e fortalece a ação dentro do território. Em primeiro lugar é preciso buscar a integração com os produtores locais, visto a quantidade de profissionais qualificados que o território possui. E em segundo lugar é preciso desmitificar a ideia do espaço popular como carente, na qual o morador é sempre um receptor passivo que recebe cultural de fora.
O reconhecimento da produção cultural da periferia, contribui para uma sociedade mais democrática, na qual o conceito de cultura não é hierarquizado e todo indivíduo tem o direito de produzir sua própria representação e receber estímulo e ferramenta do estado para continuar desenvolvendo sua arte. Projetos como o Cinemão e o Cinemaneiro abre espaço para o acesso e aprendizado de novas ferramentas de produção artística dentro da favela. Contribuindo para o direito aos bens culturais da cidade, o direito a auto-representação e o direito ao protagonismo da juventude da favela como ato político.
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