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Policiais de UPPs do Alemão dão aulas para moradores da comunidade

Depois de anos encarando a farda e o coturno como sinônimos de violência e troca de tiros, moradores do conjunto de favelas do Alemão, no subúrbio do Rio, se adaptam a uma nova realidade. Como parte das estratégias de proximidade com os moradores, policiais de unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) do Alemão começaram a dar aulas voluntárias de reforço escolar e de atividades esportivas para jovens e adultos das comunidades.

Professor Inácio é formado em Letras e dá aulas para crianças e adolescentes do Alemão (Foto: Janaína Carvalho)
Professor Inácio é formado em Letras e dá aulas para crianças e adolescentes do Alemão (Foto: Janaína Carvalho)

Formado em Letras e pós-graduado em gramática, o professor e soldado da PM do Alemão Elton Inácio Ribeiro da Cunha tem ajudado crianças e a ler e escrever. “Meu filho tem 8 anos e desde os 3 está matriculado na escola. Só agora, com as aulas do professor, que ele está aprendendo a ler. Isso foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. A escola nunca deu a resposta que eu precisava durante todo esse tempo”, diz a dona de casa Maria Cristina Pereira, de 39 anos, visivelmente emocionada ao

contar que o filho João Vitor lê as primeiras revistas.

Apesar de ter lecionado em diversos colégios, Tio Inácio, como é carinhosamente chamado pelos alunos mais novos, nunca havia dado aulas para alunos de comunidade carente. Segundo ele, foi justamente nesse local que encontrou a maior dificuldade de. “Não sei dizer onde está o problema, se é na escola, se é na criança mesmo, não sei. Mas o grau de dificuldade deles é muito grande”.

O soldado, que ministra as aulas voluntariamente nos dias de folga, destaca que a ideia do projeto não é substituir a escola, mas auxiliá-la. “A recompensa disso é que mães sobem o morro para me agradecer e dizer que o filho está lendo. Ensinar é a minha vida, é algo que faço com muito amor. Fazer esse trabalho aqui é uma realização muito grande”, afirma o professor de reforço escolar em português.

Melhor qualidade de vida para a população

Leandro dá aula de ginástica três vezes por semana em quadra da comunidade Nova Brasília (Foto: Janaína Carvalho)
Leandro dá aula de ginástica três vezes por semana em quadra da comunidade Nova Brasília (Foto: Janaína Carvalho)

Como melhor alternativa para afastar os jovens da criminalidade e das drogas e proporcionar qualidade de vida à população, policiais da UPP Nova Brasília apostam na prática de esportes e atividade física. Há cerca de 3 meses, militares formados em educação física ou graduados em luta marcial ministram aulas de futebol, ginástica, capoeira, muay thai e boxe chinês.

A dona de casa Magdália Gomes da Silva, de 35 anos, afirma que passou a ver a polícia de forma diferente depois que começou a participar das aulas de ginástica. “A gente passa na rua e vê os policiais sempre de cara fechada. Aqui percebemos que alguns são diferentes. O professor é bacana demais e muito bem humorado, só convivendo para ver”, afirma a aluna da turma de ginástica.

De acordo com o professor Leandro Faustino, de 30 anos, graduado em Educação Física, além de proporcionar melhor qualidade de vida, a ginástica tem aproximado a comunidade da UPP.

“Às vezes elas me perguntam se ainda sou policial. Respondo que sou professor e policial, mas que o mais importante é que sou igual a eles. A única coisa que muda é a farda. A gente está tentando mudar essa visão que eles tinham dos policiais”, garante Faustino, que divide o tempo entre o patrulhamento ostensivo na UPP Nova Brasília e as aulas de ginástica.

Como não há recurso para comprar equipamentos, o soldado usa a criatividade para fazer os pesos e as barras utilizadas nas aulas. Os pesos, que simulam halteres, são feitos de garrafa pet e preenchidos com cimento e água.

“A gente começou as aulas sem equipamento nenhum. Aos poucos fomos trazendo vassouras, que são utilizadas como barras, e as garrafas.

BOX CHINÊS;

Aula de box chinês são ministradas perto da UPP Nova Brasília (Foto: Janaína Carvalho)
Aula de box chinês são ministradas perto da UPP Nova Brasília (Foto: Janaína Carvalho)

Para o soldado Charles Enoque, de 25 anos, professor de box chinês, a prática de esporte é um grande diferencial na vida de jovensde comunidade. “A gente sabe que mente ociosa só dá para o mal e tivemos a oportunidade de empenhar um tempo a mais para fazer alguma coisa por essa garotada”, revela Enoque.

Segundo o professor, através do esporte é possível abrir outros caminhos na vida das pessoas. “A luta não é para brigar, é para educar e ensinar a ter disciplina. Estamos mudando eles em doses homeopáticas, sem que eles sintam. É bacana ver o carinho e o respeito que essas crianças passaram a ter pela gente”.

A expectativa do professor é que, em aproximadamente dois anos, futuros atletas comecem a surgir entre os jovens do Alemão.

FONTE: Janaína Carvalho – G1 Rio

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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