Bailarinos de favela participam de seletiva de dança da escola Bolshoi Brasil

Mais de 4 mil bailarinos se inscreveram, resultando em uma média de 100 candidatos por vaga,

A Escola de Ballet Bolshoi, uma das maiores instituições de arte e dança do mundo, realiza uma seleção nacional para novos alunos no Brasil. Entre os dias 6 e 7 de outubro, centenas de bailarinos de vários estados do Brasil estão em Joinville, no estado de Santa Catarina, para a seletiva. E as comunidades do Rio de Janeiro está muito bem representado na seleção.

Emily Oliveira, 9 anos, moradora do Complexo do Alemão, começou no ballet com 4 anos de idade. Sua mãe, Rosemar Oliveira, sempre apoiou a filha, pois quando era criança seu sonho também era ser bailarina. Mas como seus pais não tinham condições, hoje ela faz de tudo para ver o sonho de sua filha se realizar. ”Espero que ela chegue mais e mais longe. Eu falo para ela, se você quer esse sonho não desiste. Ela é uma filha maravilhosa, a filha que eu pedi a Deus. Ela entende tudo. Eu estou muito feliz. Ela vai fazer o teste e vai passar”, afirmou.

Bernard Coelho de Azevedo de 9 anos também é do Complexo do Alemão e foi selecionado para participar da escola. Sua mãe, Silvia Costa, contou que no dia da prova chegou atrasada porque teve dificuldade de chegar no local para fazer o teste. Pois onde mora é comunidade e que os carros de aplicativo estavam cancelando a corrida. “Eu consegui o contato do projeto e liguei lá explicando e eles falaram que ele ia fazer. Aí finalmente consegui um carro de outro aplicativo e quando ele chegou lá já foram trocando a roupa dele, dizendo ‘vai rápido para você não perder o teste’, todos os outros candidatos já estavam na sala. Ele fez o teste e foi aprovado”.

Bernard (dir) disputa vaga para integrar a escola Bolshoi Brasil
Foto: Divulgação

Outras crianças de favela também disputam vaga na seletiva da escola. José Vitor, de 10 anos, mora em Manguinhos. Seu pai Elias Costas, motoboy de 33 anos disse que desde dos 7 anos de idade viu talento em seu filho e decidiu colocá-lo no ballet, mesmo com o preconceito que existe “Eu sempre falo pro meu filho, se vc gosta de fazer dá o seu melhor e sei que ele está dando o melhor dele. E que ele vai pra frente e será um ótimo bailarino”. Além dele, Wellington, de 9 anos, da Cidade de Deus Wellington, 9 anos, também vai participar. Sua professora de dança Ana Alice Galvão relatou sobre a dificuldade que o bailarino passa por morar em local de vulnerabilidade, que ocorre alagamento quando chovia. “Ele tem muitos irmãos, a família dele mora ali sempre que chove, sempre que tem tiroteio é a preocupação. Se a gente tá no tijolo, tem a casa alvejada, imagina essas casas de tábua. É um menino que você vê que é mordido de lacraia pq quando chove entra bicho na casa. o projeto veio para transformar a vida dele e tomara que ele vá muito além. que traga transformação para ele e pra família dele”.

O Ballet Bolshoi

Foto: Divulgação

A Escola do Teatro Bolshoi no Brasil é uma extensão do Teatro Bolshoi e a primeira a exportar seu método de ensino de balé. Em 23 anos no Brasil, concede bolsas de estudo integrais a cerca de 240 alunos. É uma instituição sem fins lucrativos com apoio da Prefeitura de Joinville, Governo de Santa Catarina e “Amigos do Bolshoi”. Sua missão é formar artistas-cidadãos e promover a arte-educação, contando com o patrocínio de empresas como Loterias Caixa, Diamante Energia, Alfa Impacta Mais, entre outros.

Mais de 4 mil bailarinos se inscreveram para o processo seletivo, resultando em uma concorrência acirrada de 100 candidatos por vaga. Aqueles que conseguem passar na seleção nacional não apenas recebem ensino gratuito, mas também desfrutam de uma série de benefícios, incluindo: alimentação, transporte, uniformes, figurinos, apoio social, orientação pedagógica, cuidados odontológicos preventivos, serviços de fisioterapia, acompanhamento nutricional e assistência médica de emergência pré-hospitalar.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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