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Problema do transporte atormenta moradores do Vidigal

Filas intermináveis para usar o transporte público para sair do Vidigal é dor de cabeça para população na comunidade
(Foto: Igor Albuquerque / Voz das Comunidades)

Há muitos anos a comunidade do Vidigal sofre com a precariedade dos transportes. Esse problema se agravou com a retirada de algumas linhas e com a mudança no trajeto de outras. As linhas 521, 522 (Vidigal / Botafogo – Via Copacabana e Jardim Botânico) foram extintas; a linha 177 (São Conrado / Praça Mauá – Via Copacabana) foi realocada e se tornou TRO 4 (São Conrado / Rodoviária – Via Largo do Machado) as Linhas 382, 387 e S20 (vinham do Recreio, Marambaia, Piabas e iam até o Centro), e que também atendiam o Vidigal, tiveram seus trajetos reduzidos e agora vão apenas até o Rio Sul.

Todas essas mudanças atingiram diretamente os cerca de 45 mil moradores da comunidade e mudou as suas rotinas. Muitos perderam seus empregos; muitos sofrem para chegar no horário correto no trabalho; alguns acordam muito cedo (na madrugada) para atender a demanda gerada pela falta de ônibus e outros lutam para melhorar essa triste realidade.

Uma moradora que sempre sofreu e ainda sofre com a falta de ônibus é a professora, pedagoga que leciona em turmas de alfabetização, Michelle Lopes Domingos, de 41 anos, que trabalha há mais de duas décadas em Botafogo.

“Trabalho em Botafogo há 23 anos, leciono diariamente e em tempo integral. Sofro com a falta de ônibus desde quando comecei a trabalhar em Botafogo. Sempre foi um problema ter condução para lá e adjacências, como Humaitá e Jardim Botânico”, contou Michelle.

Michelle também deu uma sugestão para melhorar as condições para quem precisa do serviço e citou algo que poderia amenizar essa questão. “Penso que a prefeitura juntamente com as empresas de ônibus poderia mudar o trajeto de alguns carros. Aqui na Niemeyer, os ônibus que passam fazem o trajeto sentido Copacabana. Poderia pegar uma linha dessa e colocar para Jardim Botânico, Humaitá e Botafogo. Poderia, também, trocar o percurso de algumas linhas que saem de São Conrado sentido Botafogo (via túnel Dois Irmãos) e colocá-los para passar na Avenida Niemeyer”, resumiu a pedagoga.

Outro morador que teve sua rotina alterada foi Leonel Araújo (motorista de van/transporte alternativo), de 45 anos. Ele que é casado, pai de três (3) filhos, cuida dos seus pais idosos e ainda ajuda seu irmão num projeto social. Precisa acordar de madrugada para dirigir a van e ajudar os moradores do Vidigal a chegar nos seus respectivos destinos.

“Acordo todo dias às 3:20 da manhã, pego às 4:20, rodo até às 14:30, depois vou para o Centro esportivo da Rocinha auxiliar meu irmão, que é professor de artes marciais, nas aulas de defesa pessoal que ele dá para crianças e adultos (que sofrem de depressão e ansiedade). Passo o restante da tarde por lá e depois retorno ao lar para cuidar da minha família”, enumerou.

Em seguida, ele relata o motivo do surgimento de uma nova linha para atender a população vidigalense. “Desde 2007 criamos uma linha alternativa para atender às pessoas do Vidigal, que ficavam “ilhadas” devido a mão única. Nesse sistema de trânsito, que funciona das 6:30 às 10:30h, o fluxo de automóveis só é permitido de São Conrado para o Leblon. Por isso, criamos um trajeto curto e rápido, saindo da Rocinha, passando pelo Vidigal, Leblon, Gávea e retornando para a Rocinha pelo túnel “Dois Irmãos”,  relatou.

O mototaxista Francisco Emerson Pereira, 39 anos, mais conhecido como “Chiquinho”, apesar de ter outras profissões, enxergou nessa falta de condução uma forma de ganhar seu sustento.

“Em relação ao serviço precário de ônibus, muitos moradores realmente recorrem a nós, o que é bom pra nós. Mas, infelizmente, não é bom pro morador porque acabam pagando mais caro. Não acho justo o morador pagar mais caro por causa do péssimo atendimento dos ônibus”, ressalta.

Associação em prol de melhores condições de locomoção aos moradores

Márcio “Mazola” Farias, de 52 anos, é um dos que luta por essa causa tão importante. “Nesse momento, para o transporte, é importante termos esse êxito de melhorar para o morador do Vidigal, tanto para quem vai trabalhar, vai para o colégio e para quem vem visitar também. Antigamente nós tínhamos duas linhas, 521 e 522, uma ia para Copacabana e outra para Botafogo, que nunca falharam. Mas, depois de alguns anos, aqui na cidade, começaram umas brigas de empresários (donos de empresas de ônibus), a coisa desandou e no final a gente que mora ‘no meio do caminho’, na Niemeyer, acaba sofrendo com isso”, disse Márcio.

Ele explicou também como está negociando junto a Secretaria Municipal de Transportes, Órgão da Prefeitura responsável pela área, para resolver essa demanda essencial para a população local.

“Até o momento nada avançou em relação aos problemas sobre o transporte no Vidigal. Desde 2009 estamos pleiteando junto a secretaria de transportes e nada foi feito. Nós fizemos um abaixo-assinado (mais de 1000 assinaturas), realizamos uma reunião com a antiga Secretária de Transportes, Maína Celidônio, na qual também estiveram presentes diretores da Associação de Moradores, na sede da Secretaria de Transportes, em Botafogo. Nessa reunião a Sra. Maína se comprometeu em fazer uma manutenção no itinerário de algumas linhas de ônibus, que circulam pelos bairros vizinhos à comunidade, para que essas linhas pudessem contribuir também com o Vidigal”, explicou.

Márcio detalhou também quais as carências desse setor, quem sofre mais com isso, e qual seria a solução para o problema.

“Desde aquele momento (2019) a nossa principal escassez de transporte é no trajeto entre Botafogo e Vidigal. O ônibus para quem trabalha até Copacabana tem, mas para quem trabalha no Jardim Botânico, Humaitá e Botafogo, e é morador do Vidigal, vira realmente um problema grave. Para o Centro o transporte também é precário, mas ainda tem alguma coisa. Vamos dizer que no geral é escasso, mas as queixas dos moradores se concentra no trajeto para Botafogo e adjacências. Na época que o abaixo-assinado foi entregue, foi pleiteado para que fosse aberta uma exceção, através de um decreto, para o pessoal das vans – que têm seu itinerário legalizado pela Prefeitura – realocassem pelo menos dez (10) vans para fazer o trajeto para Botafogo. A Secretária informou que naquele momento isso não seria possível, mas que veria uma forma melhor de fazer isso acontecer. Deu um prazo de 90 dias, mas nada andou”, finalizou.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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