No último domingo (6), Thiago Menezes, de treze anos foi morto na Cidade de Deus. Na semana anterior, na quarta-feira (2), a Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, foi alvo de mais uma operação policial. A chacina deixou com pelo menos cinco feridos e dez mortos. E com tanta violência, como fica a saúde mental dos moradores de favela?
Este ano já são 47 menores baleados sendo que 21 deles morreram, segundo dados do Instituto Fogo Cruzado. O resultado pós operação policial não é o fim do tráfico ou da violência armada, e sim mais violência e adoecimento da população, e maioria preta.
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O medo silencia
O Voz das Comunidades conversou com moradores da região do Complexo da Penha para falar sobre o assunto. Pelo medo, muitos preferiram não cencederam entrevistas ou deram continuidade no nosso contato. Mas alguns moradores aceitaram falar com a gente, desde que não fossem identificados.
Por telefone, um morador demonstrou raiva diante da violência cometida pelo Estado. “A vida que pára é só a da família dos que morreram. Para os outros, a vida continua normal porque ninguém tem tempo de parar! Eu moro aqui há 40 anos e da minha época de criança, não tem mais nenhum vivo. Para sociedade, não importamos. Somos como um ninho de passarinho numa árvore em frente da PUC. Se os passarinhos caem, ninguém vai sentir falta”, desabafa e acrescenta. “Esse país não tem sentença de morte. Eu sou extremamente magoado com a PM do Rio. Ela é a causa da desordem pública e tinha que acabar!”
A operação também causa transtornos mentais
A pesquisa Saúde na Linha de Tiro revelou que em lugares mais afetados por tiroteios, a tendência da população é desenvolver problemas de saúde como depressão, ansiedade, insônia e hipertensão. Algo que também foi observado é o adoecimento mental por conta da impossibilidade de sair de casa por conta dos tiroteios. O estudo foi realizado com 1.500 entrevistados maiores de 18 anos de seis favelas: Nova Holanda na Maré, Vidigal, CHP-2 em Manguinhos, Parque Proletário dos Bancários na Ilha do Governador; Parque Conquista no Caju e Jardim Moriçaba, na Zona Oeste.
No Instagram, a página Vila Cruzeiro publicou uma mensagem de uma empresa dizendo que “as faltas em dias de operações policiais nas comunidades não serão mais abonadas”. Segundo informações coletadas pela equipe do Voz das Comunidades, a empresa que não teve o nome informado só contrata funcionários que moram próximo a ela e muitos deles são da favela.
‘O não falar adoece’
A psicóloga Erica Amaral, explica que o organismo busca um equilíbrio. Mas diante do perigo, não encontra essa estabilidade. “O medo constante desenvolve uma condição de estresse, que pode desencadear outros sintomas e até patologias, O morador pode ter sensação de impotência, tristeza, falta de esperança e outros sintomas como taquicardia, pressão alta, dificuldade para dormir, crises de ansiedade, depressão, entre outros.”
Para diminuir os impactos da violência na saúde de moradores de favela, a psicóloga explica que é necessário repensar as políticas públicas. E acrescenta. “O ‘não falar’ adoece. E também é necessário criar espaços coletivos para falarmos sobre violência de todos os tipos”.