”Nunca tive vergonha de dizer onde eu morava, nunca escondi, meus pais sempre me ensinaram o valor da verdade”
Morar em uma favela é como se você tivesse numa cidade do interior, apesar de ser um lugar grande e ser considerado uma cidade, a relação das pessoas é sempre bem próxima e interativa. Essa semana eu me mudei de um morro da favela para outro e na mesma semana já tinha vizinho vindo falar comigo e me convidando para almoçar.Na favela o vizinho é sempre uma extensão da sua família.
Essa semana fui visitar a casa da minha vizinha Carol, que me chamou para almoçar, já que o fogão e a geladeira lá de casa só chegam na próxima semana. Quando cheguei na casa dela já fiquei impressionada com a quantidade de quadros de pintura que tinham lá, alguns pintados por seu tio e outros pintados por ela mesmo e na conversa que vai e vem ela me contou a história da sua família ”é de família essa coisa meio artística, a arte é basicamente a minha vida ela bulsa dentro de mim”, enfatizou.
Caroline Ramos da Silva Cetto Vitor, 17 anos, mora no Complexo do Alemão desde que nasceu com seu pai Carlos Cetto Vitor, taxista, e sua mãe Edileuza Ramos Cetto Vitor, vendedora de salgados. Caroline teve seu primeiro envolvimento com arte aos oito anos quando fez teatro no colegio Pedro II Unidade São Cristovão . Carol conta que começou a fazer teatro porque era muito timida e falava muito para dentro. Aos poucos no próprio colégio ela foi descobrindo não só o teatro como a dança também.
Além dessas paixões conta a avó de Caroline , que a neta desde pequena gostava de desenhar e fazer as roupas das bonecas. Aos 9 anos fez um curso de costura de um ano no Rio Cumprido e durante o curso aprendeu a bordar, custurar, cortar moldes. ” antes disso eu já costurava roupinha de boneca, minha vó é costureira e ela me dava os retalhos e eu fazia as roupas das bonecas essa era a minha brincadeira de criança”, relembra Carol.
Enquando Carol me contava sua história ela ia me mostrando sua pasta de dezenhos com os vestidos que ela já fez. ” meu pai desenhava quando era criança e minha mãe já foi pacista da Imperatriz. Acho que por isso eu sempre gostei de desenhar, já me enrolei em panos e fui para a festa, já fiz o vestido que eu usei numa festa de quinze anos e todo mundo ficou perguntando onde eu tinha comprado”, relembrou.
No dia que me contou isso Caroline tinha acabado de chegar do Centro de Referência de Juventude (CRJ), onde foi fazer sua inscrição para o curso de moda. A menina que já teve alergia emocional por causa da violência e dos tiroreitos que pressenciava dia a dia na sua favela hoje sonha em ter sua própria loja de moda na comunidade com preços acessíveis mas com o mesmo glamur da alta sociedade. “ Meu pai sempre me ensinou que eu podia ser melhor, não desvalorizando a comunidade, porque tem muita gente boa aqui. Meu sonho é me formar e poder ajudar a comunidade, porque aqui era um lugar muito deixado de lado, mas nunca tive vergonha de dizer onde eu morava, nunca escondi, meus pais sempre me ensinaram o valor da verdade e dar valor ao que eu sou e tenho”.
Por: Thamyra Thâmara