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Regularização de favelas é a maior da história do Rio

Na história recente das favelas, apenas a Quinta do Caju conseguiu, em 2004, 200 títulos de propriedade da terra em uma área da União. O incentivo para a regularização em massa veio de uma determinação do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Para receber recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), é preciso legalizar a terra. O trabalho é extenuante e demora mais de um ano. A parte mais difícil é descobrir a quem pertenciam os terrenos antes de ser invadidos, décadas atrás.

Futuro das favelas. Os efeitos dessa revolução fundiária só serão conhecidos a longo prazo, mas de imediato abre uma discussão sobre o destino das favelas, principalmente as localizadas na zona sul, área cobiçada por um aquecido mercado imobiliário.

São duas visões baseadas na crença de que os preços das casas vão disparar. De um lado, a certeza de que os moradores não resistirão à valorização e venderão suas casas para morar na periferia. De outro lado, a convicção de que o título de propriedade é garantia de riqueza para uma população pobre.

‘A valorização da área é natural. A remoção branca (sem uso de força) é inevitável’, acredita Luiz Antonio Machado, especialista em favelas e pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio. O medo de Machado é de que a população seja expulsa das favelas pela força do dinheiro. ‘Sei que é polêmico, mas era melhor não mexer nessa casa de marimbondos. Para os moradores, é melhor urbanizar e garantir a moradia.’

‘Não estamos falando de uma população de estúpidos. O pobre é pobre, mas não é burro’, argumenta o economista Paulo Rabelo de Castro, defensor do título de propriedade. Ele calcula que se o morador tiver a escritura definitiva o valor do imóvel chegue a dobrar. ‘Os moradores têm todo o direito de fazer o que quiserem com suas casas. Legalizar é um choque de riqueza.’

A valorização dos terrenos é maior nas favelas que passam por grandes mudanças, principalmente com a chegada das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). Na zona sul, elas ainda têm a vantagem de ostentar vistas deslumbrantes. É o caso da Rocinha, em São Conrado, Vidigal e Chácara do Céu, no Leblon, Cantagalo, entre Ipanema e Copacabana, Dona Marta, em Botafogo, e Babilônia, no Leme.

Situações diferentes. Nem todos os moradores vão receber o mesmo direito sobre as suas casas. Esse é o ponto crucial da regularização fundiária. Ao sair da informalidade que atualmente vale para todos os moradores, a mesma favela terá situações de direitos diferentes.

No Complexo do Alemão, quem construiu seu barraco em uma terra da prefeitura vai ganhar o título de concessão especial de uso. O morador não vai poder vender para ninguém que tenha uma renda mensal acima de seis salários mínimos (R$ 3.270). E ainda terá de ir à prefeitura atrás de autorização para passar a concessão adiante.

João da Silva Cunha, que tem o título de propriedade da sua casa no Cantagalo, jura que não vende. ‘Depois de 20 anos, vou sair pra quê? Agora que está melhorando.’

Josefa Flores, de 58, já está achando bom demais ter o título de concessão especial de uso para efeito de moradia do puxadinho que construiu há 33 anos em um beco sem saída no Complexo do Alemão, na zona norte.

Fonte: Estadão

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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