Na manhã nublada deste sábado (26), as ruas do complexos do Alemão e da Penha foram invadidas pela Cultura e Educação. Na terceira edição da #InvasãodeLivros, 5 mil livros foram doados a crianças e adolescentes por cerca de 70 voluntários do Voz da Comunidades. Em seu terceiro ano consecutivo, a ação social, criada por Rene Silva, ressignifica a operação de ocupação ocorrida no CPX em 2010, portando acesso ao conhecimento e não desesperança.
A iniciativa reafirma a necessidade de criar espaços culturais na Favela e também é um protesto contra o abandono de políticas de acesso à Educação e Cultura na região. Sobre o tema, Rene afirma. “Essa ação é uma alusão àquele momento da ocupação do Alemão em 2010. Uma forma de protesto pelo fato de que há 12 anos o governo só entrou com a polícia. (…) a biblioteca Parque, por exemplo, está desativada há 6 anos, desde que o teleférico parou de funcionar, em 2016. Por isso, a iniciativa da invasão de livros é simbólica, pelo desserviço de promessas do governo de mudança social não cumpridas ao longo desses anos todos.”
E a importância da leitura não é novidade por aqui. Fabiana Dias Brito é do Complexo do Alemão e mora com seu filho Arthur, de 9 anos. Foi ela que gritou da sacada do prédio e mandou o filho descer correndo para pegar os livros. Para essa mãe, educação é tudo. “Eu não tenho tempo, mas conhecimento a gente não esquece, né? Gasto cento e pouco na escola… eu tô investindo pesado nele. Ele é um dos melhores alunos da escola. A gente é de favela, mas não é de bobeira, não!“
David Caíque tem 12 anos e frequenta o 6º ano da escola municipal Vera Saback. Para ele, ler não é um costume de sempre, mas ele curte nas horas vagas. Seus interesses são histórias de heróis e de luta, porque ele faz boxe num projeto perto de casa. “Eu vejo mais instagram, mas eu leio. Eu leio lá no instagram e nas horas vagas, quando não tenho nada pra fazer, eu leio os livros. Eu já ganhei alguns outros (livros) do projeto lá de dança que eu faço.”
A #InvasãodeLivros 3 ocorreu com o apoio de artistas e instituições. O youtuber e empresário Felipe Neto doou mil livros para a iniciativa, seguido pelo cantor Emicida, a Gerência de leitura da prefeitura, Editora Sextante, Companhia das Letras e Editora Record que também fizeram doações.
Para crianças como Caíque e Arthur, a Invasão de Livros é um paliativo que soluciona provisoriamente a escassez de políticas de incentivo à leitura. A Biblioteca Parque do Alemão encontra-se ainda fechada, mas isso não tem impedido as crianças e seus pais de buscarem os melhores caminhos para acessar o conhecimento e a Educação.