Nesse verão, a sensação térmica no Rio de Janeiro chegou a bater 50 graus. Muito calor mesmo! Do que a gente precisa nesse “calorão”? De água! Muita água. Mas não dá pra confiar na água fornecida pela Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae). Há alguns dias, moradores começaram a reclamar da qualidade da água. Cheiro, gosto de barro e cor amarelada foram relatados em 11 bairros da Zona Norte e Oeste. Começaram a surgir casos de gastroenterite, diarreia e vômito. A mídia e a população cobraram um posicionamento da Cedae.
Na segunda-feira, 6 de janeiro, o primeiro posicionamento oficial da Cedae para a imprensa: 150 coletas de amostras de água para análise e a análise preliminar em uma unidade do macro sistema de abastecimento do Rio amostra dentro dos padrões de potabilidade indicadores das normas do Ministério da Saúde – a água tá potável, não faz mal à saúde. Na terça-feira, 7 de janeiro, a companhia publicou uma nota colocando a culpa na geosmina: uma substância orgânica produzida por algas. Um fenômeno natural que ocorre devido ao aumento de água em mananciais em função de variações de temperatura, luminosidade e índice pluviométrico. Sabe quando a gente sente o “cheirinho da chuva”? Então, é a geosmina em ação. Disseram que a substância não oferece risco à saúde. Se não oferece risco, porque tantas pessoas passaram mal? Os infectologistas afirmam que os sintomas relatados são relacionados a ingestão de água contaminada e que geosmina em grandes quantidades pode ser tóxica.
Ao final da nota a Cedae afirmou: “Cabe informar que as amostras já analisadas na tarde desta terça-feira (07/01) na Estação de Tratamento do Guandu não apresentaram alteração quanto ao cheiro e ao gosto, estando dentro dos padrões. Ao longo do sistema, porém, a água ainda pode apresentar gosto e cheiro alterados em alguns locais. Por isto, a Cedae continuará monitorando todo o sistema de abastecimento ao longo da semana.”
Na quarta-feira, 08 de janeiro, o gerente de controle qualidade da Cedae, Sérgio Marques,falou com a imprensa, garantiu a qualidade da água e disse que sua ingestão não fazia mal a saúde. Defendeu a empresa das acusações de negligência: “Nós estamos monitorando a água da forma que é exigida e temos certeza do que a gente garante”. Entretanto, a água continua com qualidade duvidosa, com gosto, cheiro e cor diferentes. A crise atingiu mais de 20 bairros. O jornalista ambiental, Emanuel Alencar fez uma publicação em sua página do Facebook expondo demissões de 39 funcionários que trabalhavam nas áreas de manutenção, análise e distribuição de água. Não pode ser coincidência. Especialistas recomendam que a população compre água mineral ou ferva a água de 20 a 30 minutos. A venda de água mineral explodiu na cidade. Teve mercadinho que acabou estoque, centro de distribuição que aumentou em cinco vezes a demanda. Apesar disso, a Cedae continua insistindo que a qualidade da água está dentro da regulação. Vocês acreditam? O fato é que vivemos uma crise, não ter confiança na água de sua própria casa é muito grave. Pagamos por um serviço – tratamento e distribuição de água e não estamos sendo atendidos. E quem não tem dinheiro para comprar água mineral? Será obrigado pelo descaso do poder público a consumir água contaminada? O acesso à água potável e ao saneamento básico é um direito humano essencial e universal. A negação desse direito é um crime.
Depois de muita pressão, no dia 09 de janeiro, a Cedae divulgou que vai adotar em caráter permanente a aplicação de carvão ativado pulverizado no início do tratamento da água distribuída a grande parte da população do Rio de Janeiro. “A mudança no tratamento ser permanente é indício que o problema é grave sim. Se fosse só uma questão pontual, a mudança não seria permanente. O fato é que rios tão poluidaços com esgotos e o clima quente só agrava a proliferação de tudo nas águas.” como alertou Beatriz Diniz, colunista de meio ambiente e sustentabilidade aqui do Voz das Comunidades, no Twitter. A crise da água no Rio de Janeiro está totalmente conectada com o colapso ambiental que vivemos. A correria pra comprar água potável a ponto de acabar estoque de algumas lojas é uma prévia do que podemos viver num futuro não tão distante. Mas o que isso tem a ver com colapso ambiental? Tudo! A poluição que afeta as baías e lagoas do Rio de Janeiro comprometem a qualidade da nossa água. O especialista em Engenharia Sanitária, Adacto Ottoni, falou no RJTV sobre o assunto:
“Essa água indica altíssima poluição. A gente vê o alto grau de degradação da bacia, com ocupação das faixas marginais, desmatamento. A água vai passando pelas cidades e você vê as manchas de poluição entrando no rio. E lamentavelmente esta é a água que estamos bebendo”
Os principais mananciais de água que abastecem a cidade estão poluídos, com a água cada vez mais poluída chega uma hora que não vai ser possível tratar. A proteção do meio ambiente também é local! O Rio de Janeiro corre risco de viver um colapso hídrico. A despoluição da Baía de Guanabara não é coisa de “ecochato”. Pensem nos seus filhos e netos, a qualidade de vida deles está em jogo. A falta de água e saneamento básico afeta 2 milhões de pessoas no mundo, segundo a OMS, o colapso ambiental não é uma trama de ficção científica, está acontecendo aqui e agora. A Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) vai abrir um Ato de Investigação Preliminar para apurar problemas na qualidade da água fornecida. Então já sabe, se for comprar água mineral guarde as notas fiscais e apresente ao Procon para pedir a devolução do dinheiro. Continuamos aguardando respostas com a certeza de que não queremos esse futuro.