\u00d4 m\u00e3e! \u00d4 m\u00e3e preta!
De onde \u00e9 que vem essa for\u00e7a pra suportar tanta treta?
S\u00e3o tantos dedos te apontando e nenhum se move pra te ajudar
O que te torna assim, t\u00e3o forte, pra te fazer continuar?
Foi m\u00e3e aos dezesseis! Colocaram em pauta a sua conduta
O safado, agressor, te engravidou e foi embora chamando de \u201cputa\u201d
Sim! Mas aquela que pariu! Mais uma m\u00e3e de um filho que o \u201cmach\u00e3o\u201d n\u00e3o assumiu
Ele fugiu e a \u201cerrada\u201d foi voc\u00ea, que criou sozinha esse \u201cfilho da luta\u201d, que o pai, que era \u201csanto\u201d, nem viu nascer
Foram noites de l\u00e1grimas, mulher! Voc\u00ea voc\u00ea estava sozinha e se via perdida
Lutou contra os pensamentos que te mandavam tirar sua vida
O abuso fez parte da sua jornada. Eu sei, maltratava seu cora\u00e7\u00e3o
Abuso no transporte, de madrugada, e \u00e1 tarde, cantada do seu patr\u00e3o
Mas voc\u00ea suporta e enxugava seu rosto mesmo tudo mandando voc\u00ea desistir
\u00c9 que \u00e9 preta, pobre e sem emprego, vai morrer de fome, sem ter pra onde ir
Eles provavam seu tempero no banquete que voc\u00ea fez
Enquanto isso, em seu barraco, sua dispensa em escacez
E a madame esnobe, sua patroa, te humilhava a semana inteira
Pouco se lixava pro seu bem estar e te atormentava at\u00e9 sexta-feira
Ela queria jantar com seu patr\u00e3o e n\u00e3o tinha com quem deixar seu beb\u00ea
Enquanto sua cria, m\u00e3e preta, crescia e aprendia a falar sem voc\u00ea poder ver
Devia doer. Do\u00eda n\u00e3o ver a primeira palavra
O que ele aprendia voc\u00ea descobria quando chegava e algu\u00e9m te contava
Tinha que cuidar do filho dos outros pra que o seu, em casa, n\u00e3o morresse de fome
E assim foi crescendo o seu menino, antes do Tempo virando homem
C\u00ea fez o que podia, eu sei. N\u00e3o merecia ser julgada
Enquanto estava ralando no trampo, o menino, na rua, fez a escolha errada
A\u00ed te apontaram como culpada! Disseram que ele vivia jogado
Mas o aluguel n\u00e3o iria ser pago se o seu joelho n\u00e3o fosse ralado esfregando aquele ch\u00e3o\u2026aquele ch\u00e3o que tinha que brilhar
Enquanto sua estrela ia sendo apagado e n\u00e3o tinha ningu\u00e9m pra iluminar
C\u00ea saiu sozinha do escuro e hoje tudo que tem vem de muito suor
Merecia muito mais, mulher
E eu sei que ainda vai ser melhor
Agress\u00e3o do marido e apontada por todos! Nada disso te fez desistir
E hoje \u00e9 inspira\u00e7\u00e3o pra todos n\u00f3s, m\u00e3e preta, olhar pra voc\u00ea e te ver sorrir
H\u00e1 quem me diga que tu \u00e9 fr\u00e1gil. Prove ent\u00e3o, quem puder
M\u00e3e preta, pra mim, \u00e9 sin\u00f4nimo de for\u00e7a e quem me dera ser forte que nem mulher
Pois voc\u00ea \u00e9 for\u00e7a, resist\u00eancia, guerreira viva, inspira\u00e7\u00e3o
Atrav\u00e9s de mulheres como a senhora \u00e9 que foi constru\u00edda essa nossa na\u00e7\u00e3o
Muito obrigado, m\u00e3e! Por resistir e sobreviver
N\u00f3s, seus filhos, s\u00f3 estamos vivos, porque voc\u00ea decidiu n\u00e3o morrer
Viveu, nos deu vida e hoje nossa luta \u00e9 toda por ti
O suor derramado do seu rosto \u00e9 o que agora me faz n\u00e3o desistir
E se quiser continuar cozinhando, continue, n\u00e3o precisa parar. Mas ser\u00e1 na cozinha da sua casa, pra voc\u00ea mesma degustar
N\u00e3o mais na casa de madame! O juiz da vida bateu o martelo
A senten\u00e7a foi dada, voc\u00ea venceu. Agora descanse no seu castelo! Quem se ajoelha hoje sou eu e ningu\u00e9m me mandou, a vontade \u00e9 minha
Ajoelho aos seus p\u00e9s, m\u00e3e preta, pra saudar a mais bela rainha!<\/p>M\u00e3e Preta – Jump<\/cite><\/blockquote>\n\n\n\n