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‘Não podemos esconder as personalidades do samba’, diz Quitéria Chagas sobre venda de cargos de Rainhas de Bateria

Foto: Roberto / Divulgação Império Serrano

Texto: Matheus Ramos e Thayan Mina

Quitéria Chagas, histórica Rainha de bateria do Império Serrano, é uma das primeiras a lutar contra a comercialização de cargos de musas e destaques para famosas. Este ano, ela está de volta ao posto após cinco anos e abre o jogo sobre o momento em que as meninas das comunidades estão voltando a brilhar nas escolas de samba.

“Ao mesmo tempo que nós não podemos esconder as personalidades do samba, a gente tem que ter uma equidade e também entender questões administrativas e complicadoras de cada escola. No grupo especial é um momento em que a maioria das rainhas são passistas e sambistas”, explica Quitéria.

Mas ela também pondera sobre as escolas menores. Para ela, não se deve exigir isso das outras escolas, de outros grupos, porque a verba é menor, não tem incentivo privado. O patrocínio é escasso, são escolas que geralmente precisam e necessitam de personalidades ou pessoas que arquem com essa posição, que é uma posição muito visada. 

Para a Rainha do Império, a solução é as escolas se estruturarem e escolherem uma rainha só, duas pessoas a frente da bateria não funcionaria esteticamente. 

“Fica muito mais bonito quando você tem uma profissional da dança, do samba, passista, que ela consegue até fazer o sincronismo com a bateria. Isso é uma coisa que lá em 2005, 2006, eu introduzi na frente da bateria do Império Serrano, sendo bailarina e passista, entrava no meio da bateria sambando”, conta. 

Para Quitéria, as redes sociais ajudaram as passistas da comunidade a retornarem aos postos importantes das escolas, pois os veículos de fora da grande mídia procuram dar destaque a pessoas que não fazem parte do circuito dos grandes famosos. 

“Fez dar mais valor aos sambistas e às personalidades e, por isso, voltaram a ser como eram no início, a maioria eram profissionais do samba. Isso é uma revolução para rumo de evoluir ainda mais o maior espetáculo da terra”, afirma.

A dançarina explica que a comercialização no carnaval já teve momentos ápices. Quando estava praticamente tudo comercializado, quase não tinha aula de comunidade. Mas agora há um resgate da importância das agremiações e dos dirigentes darem valor às personalidades, ao sambista e às comunidades: tem mais alas de comunidade; a maioria das escolas de elite estão dispensando propostas de pessoas que querem ser rainhas por muito dinheiro. 

“A gente está numa fase que eles estão dispensando no grupo especial, pelo menos é o que a gente vê. E até as musas também. Tem uma e outra que talvez tem um espaço, mas a maioria não são mais como era antigamente. A gente está num outro momento de dar mais valor e buscar mais pelo profissional do samba”. 

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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