Bate-papo descontraído com Alex de Souza, carnavalesco do G.R.E.S. União da Ilha do Governador, escola que desfila no Grupo Especial do Carnaval do Rio nesta segunda feira, vira matéria exclusiva pro Voz da Comunidade.
Sabe aqueles dias em que você dá sorte só porque deu tudo, aparentemente, errado? Acompanhando amigos de São Paulo que foram buscar fantasias no Barracão da União da Ilha, esbarramos com o carnavalesco Alex dos Reis nos corredores. Enquanto providenciavam as fantasias o papo rolou na sala dele. A amiga, Susy Yoshimura, executiva de comunicação das Casas Bahia surpreendeu-se com o interesse que o carnavalesco teve, de cara, pela história de sua família de imigrantes japoneses agricultores, para o Brasil. Em 15 minutos de papo, percebemos como funciona o olhar apurado de um carnavalesco sobre a mais simples das histórias que podem virar enredo e percebemos que aquele gostoso bate-papo estava virando uma entrevista super exclusiva já que, enfim respirando aliviado, o carnavalescos confessou que pouco ou nada de atenção pôde dar aos visitantes no barracão.
Alex conta que nasceu em Pernambuco em família pobre de cultivadores de algodão e pastores de ovelha. Família grande, nasceu temporão de pai com então mais de 60 anos. Logo cedo, teve a sorte de ser vizinho de uma gráfica e tropeçar em livros cujas ilustrações com imagens do Egito Antigo entre outras, despertaram a curiosidade pela história e pelas artes. O primeiro trabalho, na antiga Fábrica de Tecidos Bangu, colocou-o em contato com desenho técnico e logo em seguida, com estamparia e moda. Daí para o carnaval foi um pulo.
Contando como funciona sua cabeça de criativo da área carnavalesca, Alex fala do saudoso enredo da Acadêmicos da Rocinha, em 2006, sobre “dinheiro” – A Felicidade Não Tem Preço. Era para ser um enredo duro, mas ele desdobrou numa curiosa observação antropológica. O enredo buscava mostrar o “outro lado” do que o dinheiro pode trazer de problemas. Termina, nas últimas alas, com a morte que trazia os herdeiros brigando por heranças valiosas. “Até depois da morte, o dinheiro pode trazer problemas!” – conta divertindo-se com nossa reação.
Sobre o carnaval 2015 da União da Ilha com enredo “Beleza Pura?”, o carnavalesco conta: – “As primeiras alas falam de metamorfose, mostram a “luta” que o ser humano tem na busca pela transformação. Tudo cai… tem que pôr botox, amarrar tudo. Na natureza, tudo flui normalmente. A escola vêm cheia de lagartas que se transformam em borboletas.”
Como não podia deixar de ser, Alex diz que lê tudo que pode para ter uma visão completa sobre o enredo. Busca informação na história, nas artes e até na psicologia mas nem sempre consegue chegar ao fim de todos os livros. Para este enredo, buscou referências da estética das cortes francesas, as roupas afetadas de Luiz XVI e Maria Antonieta em busca do belo que nem assim os livrou de “perder as cabeças” na guilhotina. A irreverência chega às grifes e nesta hora, dava gosto ver a veia crítica cheia de humor do carnavalesco contando com prazer sobre como a Revista Vogue virou Voga, da chiquérrima marca Prada que se transforma em Praga, da Dolce&Gabana que se transforma em Cabana e por ai vai. Nem os estilistas escapam. Os grandes mitos da beleza e da moda como Madonna e Merlyn Monroe entram na avenida falando com seus modelitos famosos.
– “Doctor Rey e Miranda Priestly (Merly Streep) do filme O Diabo Veste Prada, entram em cena.”, – antecipa Alex.
As últimas alas mostram a turma dos “bombados”, os ratos e os frangos de academia em carros que misturam o fanatismo da busca pela estética dos nossos dias com os Deuses Gregos do passado: “Esta coisa da busca pela beleza não é de hoje! A estética de beleza helênica (Grécia e Roma, antigas) já ficava claro que o homem era atraído pela busca da beleza perfeita.”
A esta altura o temporal tão anunciado pelo Prefeito Eduardo Paes enfim havia chegado. Os carros alegóricos enfileirados em meio ao vento fortíssimo e trovões dava medo e dó mas soubemos ali que nada adia o carnaval. Sabiam? “Nem temporal nem furacão”, diz Alex. Faltava luz e começamos a ajudar a controlar as goteiras sobre as saias das baianas espalhadas como um mar colorido, no quarto andar do barracão.
No final, soubemos sobre os mistérios da Comissão de Frente criada por Patrick Carvalho. Nenhum jornalista sabe, não pode divulgar porque o fator surpresa ajuda muito até na narração ao vivo. Mas diante do temporal que nos “ilhou” ali no barracão da Ilha, formou-se um vínculo de amizade e confiança e o que podemos revelar aqui, com apenas alguns minutos do desfile da União da Ilha é que a Comissão de Frente vai arrancar muitas gargalhadas. Uma atriz famosa, daquelas que só de vermos nos inspira à gargalhar, vai interpretar a maior das personagens de histórias infantis. Simboliza a beleza máxima… Outros atores vêm completar o quadro mostrando uma divertida antítese da beleza (o contrário do que todos dizem). Alex e Patrick garantem que vão provar na avenida, junto com toda a escola que fez este carnaval, que a beleza interna existe e encanta!
Pronto! Já falamos muito… agora veja e descubra as delícias do enredo do Carnaval da União da Ilha que vai entrar agora na avenida.
Materia por: Lucia Judicie