Em uma publicação da Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, algumas pessoas questionaram o motivo de ela usar os termos “racismo ambiental e climático” Uns fizeram perguntas por desconhecimento, outros por ignorância e houve aqueles que disseram que os termos não existem e fizeram piadas – O efeito foi o mesmo quando a palavra “racismo” surgiu no século XX e negaram que havia discriminação.
A expressão racismo ambiental foi criada nos anos de 1980 pelo Dr. Benjamin Franklin Chavis Jr., liderança do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Benjamin foi assistente de Martin Luther King Jr., ativista político e ganhador do Prêmio Nobel da Paz, por suas ações de combate ao racismo. Portanto, o termo surgiu no contexto do movimento negro dos Estados Unidos. A expressão ganhou força e foi ampliada.
Racismo ambiental atualmente é o termo utilizado para tratar da desigualdade socioambiental que atinge sobretudo as comunidades marginalizadas, onde estão presentes pessoas negras, indígenas e empobrecidas. Essas comunidades sofrem os impactos negativos da degradação ambiental e da falta de acesso a recursos naturais e serviços ambientais, enquanto as populações mais privilegiadas usufruem de uma maior proteção ambiental e melhores condições de vida.
Não é coincidência que as populações negras, por exemplo, sejam uma das populações afetadas pelos danos ambientais. Devido ao passado colonial, com estruturas sociais baseadas na escravização de pessoas negras, estas passaram a ser inviabilizadas. A lei áurea de 1888 não trouxe consigo a reparação dos danos causados pela escravidão ou integração dos libertos. Não forneceu terras, casas, nada. Com isso, tiveram que ficar a deus-dará. Em consequência disso surgiram posteriormente os cortiços e depois as favelas. As consequências disso vemos até os dias de hoje.
O racismo ambiental se manifesta de várias maneiras, como por exemplo, na localização de lixões e aterros sanitários perto de comunidades de baixa renda e majoritariamente compostas por pessoas negras e indígenas, na poluição do ar em bairros sem investimento público, na falta de acesso à água potável e saneamento básico em comunidades rurais e periféricas, entre outros casos.
A ausência de políticas públicas que impeçam essa forma de discriminação contribui para manutenção desse cenário de exclusão. Se andarmos por diversas favelas e periferias, é possível ver na prática como o racismo ambiental se dá. Se levarmos em consideração que não há investimento em políticas de igualdade racial no Rio de Janeiro, o resultado das consequências das mudanças climáticas não poderia ser diferente. Enchentes, alagamentos, moradores de favelas e periferias perdendo todos os seus bens materiais porque a água da chuva engoliu tudo.
A responsabilidade de se pensar soluções para se evitar tragédias como a que estamos vendo na Baixada Fluminense e no Município do Rio é do poder público. A chuva não castiga ninguém. Quem castiga é o descaso e o racismo.
Jonas di andrade
Professor de português formado pela UFRJ, educador popular, comunicador, escritor, editor e revisor de texto do Jornal Voz das Comunidades